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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A arte sob a ótica do artista.



A arte nunca esteve tão em voga como agora. A artes plásticas saíram do restrito e elitizado mundo da decoração e foram estampar revistas de moda, de arquitetura, de literatura, de história, nas novelas, nos documentários, nas redes sociais, nos blogues, nos jornais. A arte nunca esteve tão popular entre todas as camadas da sociedade. Tornou-se acessível e diversificada. No Brasil, principalmente em razão da estabilidade econômica e do aumento do poder aquisitivo das classes média e mais baixas, nunca antes se falou tanto e se produziu tanta arte. As universidades disponibilizaram mais cursos ligados às artes plásticas e visuais, e, em quase todas as cidades do país, popularizaram-se as escolinhas de arte e, com isso, novos artistas. É a democracia chegando nas artes. 


Os anos que estão por vir serão decisivos para fazer, de forma natural, uma espécie de seleção dos artistas e suas produções, sejam eles tradicionais ou de vanguarda, de formação ou autodidatas, copistas ou criadores. Democracia é isso e a própria sociedade passa por fases que irão se sucedendo até se atingir um estágio mais “evoluído”, no qual será possível distinguir níveis de profissionais e de produções artísticas. Pela primeira vez na história temos obras de artistas vivos que ultrapassaram cifras milionárias (Damien Hirst - 1965), e, da mesma forma, temos artistas brasileiros vivos reconhecidos pelo grande público e renomados mundialmente, tais como Romero Britto (1963), Juarez Machado (1941), Vik Muniz (1961) e outros. 


Ao adquirir uma obra de arte, há quem se contente, simplificadamente, com seu efeito estético primeiro: “gostei!” ou “é bem como eu gosto!”.  Outros, como eu, têm uma forma mais complexa de enquadrar obras de arte no seu gosto particular. As obras de arte, particularmente falando, devem ser vistas sob parâmetros diferenciados, seja por estilo e ou técnica, para que não se cometam injustiças. Uma natureza-morta, um casario, uma marina, um retrato, uma paisagem, cada obra deve ser vista e analisada por suas características, muito particularmente, sem confusão temática ou estilística. Igualmente ao se analisar uma aquarela, um desenho a carvão, ou bico-de-pena, uma acrílica ou óleo sobre tela, temos que ter em mente que técnica foi utilizada e suas especificidades. E, quando se fala em figurativo, abstrato ou concreto, linguagem tradicional ou contemporânea, temos que ter um cuidado ainda maior, para evitar simplificações e comparações injustas. Isso sem falar na confusão que se faz com “arte moderna”, que já se vem produzindo há mais de 100 anos, com “arte contemporânea”, que é a “moderna” dos dias atuais. E, por fim, a tão famosa frase que põe por terra as críticas mais contundentes sobre arte: “gosto não se discute!”.


Tanto nas faculdades de artes plásticas, como nas mais simples, inocentes e terapêuticas escolinhas de artes, o ponto crucial do ensino e da aprendizagem, e que, a meu ver, precisa ser analisado e discutido com mais carinho pelos profissionais da área, é o “processo criativo”. Pecam as faculdades de artes ao se intensificar a parte teórica em detrimento da prática, sobrevalorizando modismos; e também as escolinhas de arte, ao supervalorizarem o processo da reprodução, quando o ato de copiar uma obra de mero exercício passa a ser uma regra e um fim em si mesmo. Copiar está na contramão da criação, castrando idéias ou suprimindo o talento natural e ou experiência pura e espontânea que, muitas vezes, os alunos já trazem consigo. As idéias dos outros devem servir apenas como estímulo e inspiração para que outros artistas possam criar algo novo, genuíno, com traços e características que os distingam dos demais.


Em se tratando de “Artes Plásticas”, há um fator preponderante e que a maioria esmagadora da sociedade tem enraizado nos seus parâmetros de preferência: o efeito estético. A maioria das pessoas, por mais humildes que sejam, ainda têm o desejo de ter uma sala confortável, luxuosa ou nem tanto, com uma obra de arte na parede. E é óbvio que esta obra de arte tem que lhes ser agradável e estar no gosto do proprietário. Estou falando de obras de arte com “valor comercial”, aquela que qualquer pessoa gostaria de possuir e ter em sua casa como um objeto decorativo. Aquela obra que será assunto de uma visita, na qual se poderá falar sobre a obra, sobre o artista e os pormenores de como foi produzida ou adquirida. 


Existe uma frase do célebre escritor russo Léon de Tolstoi, que serve como reflexão para todo o tipo de arte: “se queres ser universal, começa a pintar tua aldeia”. Da mesma forma que os artistas deveriam começar retratando ou se utilizando de temas que lhe são cotidianos; as pessoas, também, deveriam dar mais valor às coisas locais e aos artistas locais e que lhes estão mais ao alcance. As obras dos artistas locais são sempre mais acessíveis, o que não significa que sejam “menores” ou “inferiores”, e, na maioria das vezes, é bem ao contrário. O valor de uma obra de arte, primeiramente, está proporcional ao currículo do artista, ao valor que a assinatura do artista dá à obra. A fama do artista e a valorização de suas obras não acontecem da noite para o dia. Basta ler a biografia dos grandes artistas e se comprovará que é uma longa e árdua jornada. Por isso, bom senso é dar valor aos artistas locais e da sua região, cujas obras não ultrapassam R$500,00 (quinhentos reais), e podem ser até parcelados; e, o mais importante, são obras originais e “únicas”. Com obras de artistas locais não se corre o risco e o desconforto de se ter uma “cópia”.


Em São Miguel do Oeste, além das várias escolas de arte e do curso de Artes Visuais da UNOESC, há o ateliê da artista plástica Áurea Seganfredo. Uma artista com mais de 30 anos de profissão e que produz obras originais, em diversos estilos e técnicas, além de obras sobre encomenda. Uma artista experiente, cujos trabalhos são reconhecidamente valorizados e bem recebidos pelo público da região. Conheci a artista há alguns anos e, desde então, tenho acompanhado suas produções e sua história, nas quais eu observei, desde o primeiro olhar, um traço genuíno que lhe é característico, além da segurança com que alterna estilos em seu trabalho. A artista tem preferência pela pintura a óleo e pelo uso da tela, tem seu nome já popularmente reconhecido na cidade e algumas de suas obras já foram vendidas até para turistas de outros países. Já fez algumas exposições individuais e dá aulas particulares de arte em tela no seu atual endereço. 


Outro artista regional, cujo talento excepcional já é uma unanimidade entre o público, é o português José Augusto Costa Araújo. Radicado há 8 anos em Dionísio Cerqueira, Costa Araújo é um artista de carreira e um profissional das artes há mais de 40 anos. Eclético, versátil e de produção prolífica, o artista produz arte como quem fala, em quantidade, com uma segurança e facilidade impressionantes. Ao som de muita música, principalmente fado, na voz da famosa Amália Rodrigues, a criatividade de Costa Araújo está sempre me surpreendendo. Em minhas visitas periódicas em seu ateliê, sempre me deparo com criações fantásticas, únicas, incomuns. Costa Araújo tem preferência pela pintura com tinta acrílica; e pinta sobre tela, papel, cartão e tem uma mão fabulosa para a aquarela, cuja técnica sou fã incondicional. Já participou de diversas exposições individuais e coletivas, no Brasil e no exterior. Recentemente, expôs juntamente comigo 27 trabalhos no espaço multiúso do SESC; e está produzindo, além das telas tradicionais, desenhos em bico-de-pena, na série cuja temática retrata os colonizadores do extremo oeste catarinense: os gaúchos. 


Para saber mais, acesse:

http://costaaraujo.blogspot.com.br/

Costa Araújo - desenho em bico-de-pena - 2013 -  O gaiteiro
Áurea Seganfredo - óleo sobre tela - 120x70 cm - 2012
Ramiro R. Batista - Arte Generativa - A1 - 2013