Por Felipe Polydoro
Daniel Galera recebeu APLAUSO para uma conversa na mesma Zona Sul porto-alegrense que serviu de cenário para Mãos de Cavalo – “o romance revelação da nova narrativa brasileira”, como foi definido na Itália, onde já vendeu quatro mil exemplares e chegou a uma segunda impressão raríssima em se tratando de autores daqui em mercados estrangeiros. Na França, a obra acaba de sair pela célebre Gallimard.
Voltando ao Brasil: as novidades são a iminente publicação da graphic novel Cachalote e o retorno a Porto Alegre, depois de longa temporada em São Paulo, seguida de uma espécie de retiro em Garopaba. “Nunca deixei de ser um escritor daqui, embora não acredite em recortes regionais”, diz. Galera, 30 anos, publicou quatro livros. Dois deles (o já citado Mãos de Cavalo e Cordilheira, de 2008) foram finalistas do Prêmio Jabuti.
O próximo romance deve ser lançado só no final do próximo ano. Mas já tem título, revelado com exclusividade na entrevista a seguir – em que o escritor mais importante da novíssima geração brasileira elogia a inventividade pós-experimental dos escritores contemporâneos, revela incômodo com a ânsia dos leitores pela fonte “real” da ficção e rejeita a existência de uma literatura gaúcha. “Isso é uma ilusão coletiva”, decreta.
Depois de quatro livros publicados, dá para dizer que atingiste a maturidade?
Odeio este termo. O que é ser maduro? Escrever bem? Isso é uma coisa. Encontrar uma forma ideal? É outra. Eu quero escrever sempre melhor. Mas não acredito na existência de um estado ideal, colocado em um lugar fixo. É uma forma engessada e equivocada de encarar a literatura. Quando escrevi o Mãos de Cavalo, utilizaram bastante o termo "maduro", comparando o livro com minhas publicações anteriores. Eu achava muito desagradável isso. Meus livros partem de ideias que vêm espontaneamente. Essa ideia vai exigir um choque, uma forma, um estilo, um formato, um gênero. Há escritores muito bons que tu jamais poderias chamar de maduros. São irregulares, exóticos, extravagantes em certo sentido. Só que aí tu vais ver a força do livro, o significado que ele teve para um certo público ou uma certa época... Balizar-se por uma suposta ideia de maturidade literária é algo potencialmente nocivo.
Reformulando a pergunta: tu já alcançaste uma voz própria?
Reformulando a pergunta: tu já alcançaste uma voz própria?
Acredito no conceito de voz para o escritor. É a maneira pessoal, particular e intransferível que todo autor tem de se expressar. Isso parte muito da subjetividade do autor, da forma como ele filtra o mundo em linguagem. Estou sempre tentando identificar quais são os potenciais da minha forma de ver o mundo e, portanto, da minha voz literária, de como eu converto o mundo em ficção e linguagem.
O que significa receber da revista Bravo o “título” de candidato a maior representante da geração literária brasileira dos anos 2000?
Eu acho que, quando me apontam como representante de alguma coisa, talvez seja de um tipo de trajetória, de começar se autopublicando. Eu comecei a publicar na internet. Depois, criei um selo literário independente, pelo qual lancei meus dois primeiros livros. A partir disso, consegui um convite para publicar em uma grande editora. Talvez esse caminho seja um modelo de como as coisas estão acontecendo para alguns autores desta geração. Mas não consigo enxergar em mim uma representatividade em termos literários ou estéticos. O meu trabalho é bastante diferente da obra de vários autores muito bons da minha idade. Não me sinto representante de ninguém, de um projeto literário ou das características de uma geração. Não escrevo com essa ambição. Quando escrevo, estou pensando em necessidades e objetivos bastante pessoais.
Mas o teu nome surge nas rodas literárias como um dos grandes, senão o mais destacado, autor brasileiro da nova geração. No Rio Grande do Sul, autores jovens citam teu nome como referência.
O Mãos de Cavalo talvez tenha influenciado alguns autores mais novos que eu. Dois escritores que são meus amigos, o Antônio Xerxenesky e a Carol Bensimon, já me disseram isso e mencionaram o livro em entrevistas que eles deram. Mas há um erro comum quando se fala a respeito de influência. Influência não quer dizer que tu escreves como o autor que tu admiras. Se eu for citar aqui autores que eu admiro, a maioria deles não tem nada a ver com a minha própria literatura. Mas a força do texto do cara me inspirou, teve efeito sobre mim.
É possível identificar uma unidade na produção de novos autores?
Eu acho que a minha geração é justamente caracterizada por ter autores muito heterogêneos. Não é uma coisa local, nem brasileira, mas da literatura mundial. A época da experimentação tendo um valor por si foi levada ao extremo e já terminou. Aparentemente, tudo foi feito ou testado. Então, as referências dos novos autores são as mais variadas possíveis. Não existe mais uma divisão do que é mais ou menos literário. Tudo pode ser aproveitado, tudo é assunto possível. Acho que os autores mais recentes estão deitando e rolando nisso. Escrevem o que querem, sem ter necessariamente referenciais canônicos do que é boa ou má literatura. O trabalho do Antônio Xerxenesky é um exemplo disso. O livro dele, Areia nos Dentes, é uma metaficção que une referências de faroeste e de filmes de zumbis a uma história bastante sensível sobre uma relação entre pai e filho. Eu li há algum tempo o livro Sharp Teeth (do escritor americano Toby Barlow, ainda não traduzido para o português), uma história de lobisomens no deserto da Califórnia escrita em forma de poema épico. É absolutamente sensacional.
Nesta mistura de gêneros e influências, a literatura não fala só da própria literatura – e pouco da vida?
Concordo. Acho que uma das grandes armadilhas para o escritor é a sedução da literatura sobre a literatura. Ou escrever uma literatura mais voltada a outros autores, críticos, jornalistas e não ao leitor desconhecido, que poderá se emocionar e se envolver com o livro. Um autor que tratou isso de forma clara e frontal foi David Foster Wallace, um dos meus favoritos. Ele fala isto explicitamente: que talvez o grande desafio do escritor contemporâneo seja justamente escapar da tentação de fazer uma narrativa cheia de metaliteratura e referências. O Wallace fala que, provavelmente, os grandes vanguardistas da literatura atual são os caras que vão regredir a um texto mais conservador, e impor uma literatura com conteúdo mais emotivo. O grande desafio é, em um campo literário tão complexo e aberto, transmitir a emoção dos personagens, da história.
Tens um texto bastante elaborado e descritivo. Bem diferente de uma linguagem dinâmica e instantânea que, em tese, impera na internet e nos blogs, tua origem.
Essa coisa da linguagem ideal em blogs é um mito. O blog é apenas um meio. Muitos blogs que eu gosto de ler são de caras que escrevem de forma totalmente prolixa e preciosista. Supôs-se que uma linguagem mais veloz e direta seria mais adequada. Mas, se tu vais ler blogs de fato, não é isso que tu encontras. Acho que é uma visão bastante equivocada do senso comum a respeito do que são os blogs.
Concordas que, às vezes, o teu texto é bastante descritivo, constrói detalhadamente as cenas e imagens e, em certo sentido, destoa de uma linguagem mais econômica e concentrada na ação?
Em Mãos de Cavalo foi proposital. Pela natureza da história, decidi fazer assim, com descrições bastante detalhadas. Tentei montar os cenários e a aparências dos personagens com o máximo de detalhes possível. Não privando a imaginação do leitor de fazer seu trabalho, mas com muita informação para que ele pudesse imaginar as cenas. Era um livro que tinha como característica um pouco de evocação, apesar de ser uma história fictícia. Evoca a visão de como era o lugar onde eu cresci. As árvores ali descritas existem, se tu saíres aqui em volta tu vais encontrá-las. No Cordilheira, eu já relaxo um pouco, não entro em descrições tão minuciosas. Mas eu gosto de escrever assim. Acho que uma parte do meu estilo é caprichar nas descrições. Não no sentido de serem exaustivas, mas de terem uma riqueza de detalhes que coloca na página, realmente, a cena, o sentimento, o rosto. Não me contenta dizer apenas que “o rosto é assustador” e “a rua é lúgubre”.
Quando foi lançado o Mãos de Cavalo, falou-se muito do caráter autobiográfico do livro. O Cordilheira aborda explicitamente os limites da literatura e da vida. A questão das fronteiras entre realidade e ficção vem acompanhando tua trajetória.
Penso muito nisso. Na percepção do público, a figura do autor se tornou uma parte do que é a obra. Não só na literatura. É um fenômeno cultural da época. A estética documental impera. Tanto no cinema quanto em outras formas narrativas, quer-se saber o vínculo do que está sendo contado com a realidade. É uma certa desvalorização da invenção, da fábula. Parece que o que foi inventado, tirado do nada para fins narrativos, só tem valor se cotejado com a sua referência real. As pessoas querem saber de onde veio. E, se tu não disseres, elas presumirão de onde veio. O leitor precisa disso hoje em dia. Se me perguntam se um conto ou um romance é autobiográfico, qualquer resposta que eu der não dará conta da verdade. As coisas não funcionam assim. A ficção não pode ser dividida entre autobiográfico e não autobiográfico. A ficção tem suas próprias regras e características. Existe por si só. É uma terceira entidade que não precisa tomar o lado da fabulação ou da realidade. Ela usa as duas coisas. A ficção usa tanto a experiência real do autor quanto a invenção pura. Procurar os componentes biográficos e autobiográficos numa obra é uma postura equivocada.
À parte se isso é certo ou errado, o fato é que a presença, no texto, da realidade vivida tem valor para o leitor...
Estamos em uma etapa posterior ao realismo. Não basta ser uma representação extremamente fiel do real. O que está descrito e elaborado na obra deve, de alguma forma, decalcar o que aconteceu, o que é. Algumas vezes, confundo as coisas de propósito. Fiz isso, mesmo sem saber, num conto chamado "Manual para Atropelar Cachorros", publicado no meu livro Dentes Guardados. O conto força uma situação bárbara, em que um cara da minha idade, que fazia o curso de Comunicação como eu, resolve sair de madrugada para atropelar cachorros. Eu recebi muitas mensagens de amigos dizendo não acreditar que eu fazia aquilo. Foi ali que senti na pele o desejo do leitor de que o conto estivesse ligado ao autor. E o leitor cria um personagem para ti, para conseguir fazer essa ponte.
O pensador francês Jean Baudrillard dizia que o abalo do muro entre realidade e ficção é grande fonte de angústia na nossa época.
Em essência, nada é real. A nossa percepção de mundo e a de nós mesmos são só uma versão das coisas. Estão baseadas em uma espécie de narrativa tirada de algum lugar. Há níveis de crença nessa versão. Talvez esses níveis de crença separem o que é realidade do que não é. O Cordilheira parte disto: a ideia que fazemos de nós mesmos é também uma construção ficcional, não muito diferente de um livro ou de um filme, mas é nessa que a gente mais acredita, logo tomamos como a realidade. É uma coisa que o Mãos de Cavalo já trabalhava. Até que ponto a identidade é uma coisa que pode ser construída, modificada, compreendida? Até que ponto ela é orgânica, natural, da química cerebral? Até que ponto existe um livre arbítrio quando tu moldas quem és? São questões particularmente importantes hoje, mais do que em outras épocas, algo muito explícito e incorporado à cultura popular.
O que se pode saber sobre teu novo romance?
Comecei em outubro de 2009. Só posso falar que se passa em Garopaba. Estou com um sétimo escrito e eu não gosto de falar de livros que ainda não estão prontos. Gera um tormento psicológico posterior que prejudica o próprio trabalho. Posso te dizer o título: Barba Ensopada de Sangue. Há anos anotei este nome em um caderno, não lembro nem a origem. Guardei para usar posteriormente. Pelo que está se encaminhando, até o momento, deve ser meu livro mais comprido. Com sorte, termino de escrevê-lo daqui a um ano. Apostaria no lançamento no final de 2011.
O título indica uma narrativa violenta.
Tem uma ou duas partes violentas, mas a história não é violenta. O romance abandona as discussões sobre ficção e realidade e sobre identidade. Busca outros temas. Ao mesmo tempo, mimetiza elementos de Até o dia em que o cão morreu e Mãos de Cavalo. Há coisas que voltam. Tem cachorro no livro. Agora eu percebo o acúmulo de pequenas obsessões temáticas e simbólicas das quais, aparentemente, não consigo me livrar. Quando eu estava desenvolvendo a história, não tinha cachorro nenhum. E apareceu esse cachorro e se tornou importantíssimo.
O romance tem algo a ver com as tuas experiências em Garopaba?
É um personagem que, como eu, vai lá com a intenção de ficar um pouco isolado. Por que ele vai? O que acontece com ele lá? Isso é completamente diferente. Eu fui para Garopaba para... nada. Simplesmente para morar na praia. Ficar isolado durante o período que me fosse conveniente. Eu tinha a ideia de que provavelmente sairia dessa experiência, entre outras coisas, com um cenário para escrever algo. Mas não fui lá para isso. Trabalhei pouco em Garopaba. Fui lá para, sei lá, estar lá.
Como surgiu a ideia de produzir a HQ Cachalote?
O Rafael Coutinho (quadrinista de São Paulo) estava procurando alguém para escrever uma graphic novel com ele. Um amigo em comum nos apresentou. Em um mês estávamos começando a pensar nas idéias do livro que faríamos juntos. Começamos a criar os personagens, o roteiro, enquanto eu morava em São Paulo. Até no bar discutíamos o assunto. Quando fui pra Garopaba, nos encontramos algumas vezes. Mas boa parte do trabalho foi feita separadamente. Conversávamos por Skype.
Do que trata?
É um único volume com seis histórias. São totalmente diferentes e não se cruzam. Difícil de resumir. Ganham mais significado quando vistas em conjunto, embora sejam independentes. Mas estão entremeadas em um livro de 300 páginas. É de uma matriz realista, mas nos sentimos na liberdade de fazer concessões para situações meio surreais, fantasiosas e misteriosas quando parecia interessante. O cachalote aparece, mas não é determinante para a história. Gostamos da palavra e da baleia. Mas não é a chave para compreender o texto. O Rafael (Coutinho, corroteirista e autor dos desenhos) disse em entrevista à Folha de São Paulo que nem ele sabe sobre o que é o livro. E ele não estava enrolando.
O que significa ser um autor de Porto Alegre?
Não significa nada além de que o autor mora em Porto Alegre. A minha vida foi quase toda passada na cidade, a minha referência de mundo parte daqui. Eu acabo utilizando os cenários que foram e são importantes na minha vida, pelos quais eu passo e vivo alguma coisa representativa. Então Porto Alegre ainda é o meu cenário principal. As pessoas daqui não me veem como um escritor daqui.
Não veem?
Depende. Se eu estiver morando em Porto Alegre, veem. Se não estiver, não veem. Quando eu comecei a publicar, a imprensa local se referia a mim, naturalmente, como um autor porto-alegrense ou gaúcho. Quando me mudei para São Paulo, virei um autor que iniciou a carreira em Porto Alegre e mora em São Paulo. É uma coisa bem gaúcha, uma forma muito autocentrada e separada de se ver em relação ao resto do país. Do meu ponto de vista, nunca deixei de ser porto-alegrense ou gaúcho. Mas aqui há uma dúvida, porque eu nasci em São Paulo e vim para Porto Alegre com um ano. Não que me tratem mal. Mas há um questionamento: será que ele merece ser chamado de gaúcho? Na verdade, eu não acredito nos recortes regionais.
Não existem literaturas regionais? Erico Verissimo, por exemplo, não fez literatura gaúcha?
Não vejo como literatura gaúcha. É um autor importantíssimo para a nossa cultura. Mas não consigo pensar na literatura como guetos regionais. Não faz sentido para mim. Eu acho esse recorte desnecessário ou até nocivo. Eventualmente, serve para organizar um estudo acadêmico. Mas não existe uma literatura gaúcha. Assim como não existe uma literatura paulista, carioca, nordestina ou recifense. Essa é uma visão que só se encontra aqui. E é uma ilusão. Existem algumas diferenças temáticas, mas resumir a questão a isso é o que se chama de atenção seletiva. Captam-se uns padrõezinhos e joga-se um rótulo. A existência desse rótulo pode conduzir aos temas ideais para a literatura gaúcha e aos não tão ideais. Os temas mais e menos literários. As referências mais nobres e menos nobres para um autor gaúcho. É nisso que decai. Isso pode limitar não só a compreensão do que é a literatura produzida naquela região, mas até a própria produção e a crítica dessa produção por um critério que não traz nada de bom para a literatura. É uma ilusão coletiva. Essa distinção nunca serviu para muita coisa. E, cada vez mais, é anacrônica. Não tem nada a ver com o mundo de hoje. Se tu vais falar sobre isso com outros autores gaúchos, eles têm a mesma opinião. Uma vez, participei de um painel na Jornada de Passo Fundo sobre a literatura gaúcha. Eu fui preparado para dizer que isso não existe e para ser carneado. A mesa tinha também o Moacyr Scliar, o Fabrício Carpinejar, a Letícia Wierzchowski e o Charles Kiefer. Para a minha surpresa, todo mundo concordava que esse negócio de literatura gaúcha não importa, que temos de nos livrar disso, que nos afasta do resto do país e nos atrapalha em termos de mercado editorial. No fundo, todo mundo sabe que isso não serve para nada, só para limitar a literatura.
E a literatura brasileira em relação à do resto do mundo?
Até a distinção entre literaturas nacionais está se borrando um pouco. Se tu leres autores russos, americanos, japoneses, vês que está todo mundo no mesmo mundo. A distinção dos países vai criar cores locais, estilos locais, mas, em essência, a literatura é uma só. Há 100 anos, fazia sentido falar de uma literatura francesa, em comparação a uma literatura alemã ou russa. Hoje, a distinção não é tão clara.
O romance Até o Dia em que o Cão Morreu foi adaptada para o cinema pelo Beto Brant e os contos de Dentes Guardados originaram uma peça de Mario Bortolotto. Qual a relação da tua literatura com as outras formas de narrativa, principalmente o cinema e a televisão, hoje as principais criadoras de imaginários?
Com certeza, a literatura perdeu espaço na formação do imaginário. Mas é perigoso pensar que a literatura se tornou menos importante. Existem cada vez mais formatos e todos eles se impõem e têm que coexistir. Todas as formas de expressão têm menos espaço relativo com o passar do tempo. Existe uma visão, não necessariamente correta, de que a literatura concorre com o cinema. Temos a tentação de, à primeira vista, aceitar isso como verdade. Mas a literatura continua sendo uma das grandes fontes para o cinema. Talvez até mais do que antes. E o cinema, por outro lado, tem uma linguagem que influencia muito na forma como os autores escrevem, porque influencia a nossa forma de ver o mundo. Então não é que os dois formatos estejam concorrendo. A verdade é muito mais interessante e estimulante do que isso. Não há concorrência. Existe uma soma, um diálogo entre todas essas formas. Por isso, eu disse que os ideais literários são perigosos. Eles te fazem rechaçar referências que se somaram ao que é potencialmente literário nas últimas décadas, devido à ocupação de formas novas: cinema, videogames, música pop, etc.
Há novos projetos de adaptação de obras tuas?
Os direitos do Mãos de Cavalo e do Cordilheira já estão vendidos. Não têm filmes sendo feitos ainda. Estão em pré-produção, como se diz. Se tudo der certo, serão filmados. Mas não dá para dizer, nesse momento, que nenhum dos dois serão filmados, até onde eu sei. Não me envolvo demais. Os direitos do Cordilheira são, sabidamente, da RT Features, produtora de São Paulo que organizou e financiou o projeto Amores Expressos (que prevê a publicação de 16 livros de escritores brasileiros elaborados depois da estadia em alguma cidade estrangeira). Os direitos do Mãos de Cavalo estão vendidos para a M. Schmiedt Produções, da Monica Schmiedt, que lançou agora o Doce Brasil Holandês e produziu também os filmes Anahy de las Missiones e O Quatrilho. Os detalhes de como está a pré-produção é com eles. Acompanho pouco. Prefiro manter certa distância.
Qual teu plano de vida?
Nunca planejo minha vida por mais de seis meses. Agora quero escrever um próximo livro. Se chegar um momento em que eu não queira mais escrever, jogo tudo para o alto. Não continuarei escrevendo porque é legal ou bonito escrever ou porque comecei e tenho de ir até o fim. Vou escrever enquanto fizer sentido pra mim. Acho que fará sentido por muito tempo, provavelmente até o fim da minha vida. Mas não boto a mão no fogo.
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