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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um pouquinho sobre Jazz


A contribuição americana para a música remonta à cultura afro-americana: o jazz. Esse gênero musical desenvolveu-se a partir do blues, em uma mistura de cantos africanos tradicionais, hinos cristãos e orquestras de baile européias. Também os klezmer, os tradicionais músicos judaicos do Leste Europeu, trazem sua música para a América com as grandes ondas de imigração e animam a cena com os sons orientais do clarinete. Com a migração de trabalhadores negros da agricultura para a indústria, essa música deslocou-se rapidamente do campo para as cidades. Segundo uma teoria popular, o ritmo sincopado do ragtime vem do chacoalhar dos trens, que levavam os negros a Chicago. 


Em pouco tempo, o jazz também é assimilado pelos brancos, e a onda invade a Europa, onde Stravinski e outros compositores já incorporam elementos jazzísticos em suas músicas. Por outro lado, compositores americanos procuram conectar-se à música erudita européia, como demonstra o jazz sinfônico de George Gershwin (1898-1937). A evolução continua em ritmo acelerado rumo ao swing popular e às legendárias big bands de Duke Ellington (1899-1974) e Benny Goodman (1909-86). As formas cada vez mais elaboradas, como o bebop e o free jazz, têm um destino semelhante ao da música erudita européia, pois agradam somente ao público de conhecedores.

Mas o jazz resgata para o mundo musical um elemento que, em seu recatamento, os europeus haviam recalcado: trata-se de uma música corporal, e como órgão musical, o corpo volta a participar. O rock’roll torna-se símbolo desse movimento de libertação do corpo no pós-guerra (o gingado sensual dos quadris dá a Elvis o apelido the pelvis, a pelve). Entretanto, a vitória já fora alcançada muito antes. A reunião de êxtase corporal e música é expressa pelo fato de esta última também ter conquistado a cultura jovem. Somos governados pelo rei pop, que rege vários clãs, várias tribos e vários clubes, que produzem seus próprios rituais com batuques, pinturas tribais, ritos, drogas e objetos de coleção de fãs. Techno, house, hip-hop, drum and base, bandas de veteranos que parecem com os Rolling Stones do Mount Rushmore, grupos de garotos, grupo de garotas... a lista é interminável.

A mais nova tendência é utilizar essa variedade para fazer combinações. O lema é o cross-over: virtuoses do jazz tocam música clássica, orquestras clássicas tocam música pop, tenores são tratados como popstars e cantam as canções destes; o folclore nacional une-se a sons urbanos, criando a world music. Isso também implica a diluição da fronteira entre música erudita e música popular. Ao mesmo tempo, a música hoje é uma questão de marketing da indústria cultural. No século XX, a era industrial invadiu a música. Isso se tornou possível graças a duas invenções tecnológicas: o disco e o rádio, ou seja, a possibilidade da divulgação em massa da música. Graças a ela, surge uma cultura musical democrática, na qual todos têm acesso a todos os tipos de música. Isso pôs em funcionamento uma máquina de entretenimento milionária, que opera no mundo inteiro com alta tecnologia. Como na ilha encantada da peça A tempestade, de Shakespeare, o mundo está repleto de sons. Alguns sentirão saudades dos tempos em que música ainda era arte, mas hoje Pitágoras poderia realizar seu sonho de música das esferas em qualquer loja de departamentos. 

(fonte: “Cultura Geral – Tudo o que se deve saber”, de Dietrich Schwanitz, p. 293/294)

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