Preciosidades

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A vida não é como matemática. Jéssica Lanzani

"Sobre mim:
A vida não é como a matemática. Você não pode pegar duas coisas negativas, mutiplicar e dar uma coisa positiva , definitivamente não."

domingo, 26 de setembro de 2010

Nunca é tarde para gostar de ler. Revista Nova Escola

Muitos professores brasileiros não tiveram a chance de construir uma história como leitores de literatura. Mas sempre é tempo de criar o hábito de leitura e também inspirar seus alunos.

Você terminou de ler um romance. Chega à escola e corre para compartilhar a experiência com os colegas. Fala sobre os conflitos do personagem (sem entregar o fim da história, é claro) e comenta que já viveu vários dos questionamentos narrados na história - razão pela qual a trama prendeu a atenção do começo ao fim. Outro professor aproveita para dizer que já leu algo do mesmo autor - e a conversa continua, animada, até a hora de a aula começar.

"Um mesmo livro nunca é o mesmo para duas pessoas", já disse o poeta Ferreira Gullar. Essa experiência, ao mesmo tempo pessoal e coletiva, é tão rica porque nos permite entrar em contato com uma realidade diferente da nossa - e, graças a isso, (re)construir nossa própria história dia após dia.

Porém a realidade de grande parte dos docentes brasileiros está bem longe disso. Muitos não tiveram acesso a obras literárias em casa nem construíram práticas sociais de leitura (na Educação Básica e nos cursos de graduação universitária). "O professor médio brasileiro do ensino público teve pouco acesso e estímulo a ler. Por isso, conhece poucas obras de literatura contemporânea e clássica", afirma Zoara Failla, gerente executiva de projetos do Instituto Pró-Livro. Então, o que fazer para transformar essa pessoa que tem pouca familiaridade com a literatura em um agente disseminador de boas práticas leitoras? O mais importante é saber que nunca é tarde para se deixar encantar pela literatura e começar uma trajetória como leitor - ou, quem sabe, ampliar ainda mais os conhecimentos sobre os livros. Vamos nessa?

Por que ler
?

O leitor literário lê por razões variadas: rir, refletir, investigar, relembrar, chorar e até sentir medo. Lê porque mergulha no que autores e personagens pensam e sentem - no passado, presente ou futuro, em lugares distantes ou que nem sequer existem. Lê porque as narrativas literárias o ajudam a refletir sobre a vida e a construir significados para ela.

Como virar um leitor
?

Não existe um caminho único para se tornar um leitor literário. Você pode começar por textos simples do ponto de vista linguístico e depois passar para os mais complexos - ou iniciar por temas próximos e partir para os mais distantes. "E há os que preferem os grandes desafios desde o princípio porque sabem que eles têm algo a oferecer, nem que seja a estranheza", afirma Ana Flávia Alonço Castanho, selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. Um bom caminho para alavancar o gosto pelos livros é procurar uma comunidade de leitores (podem ser os professores da escola, os amigos, os parentes - o importante é encontrar gente que goste de ler). Em Andar entre Livros, Teresa Colomer, professora de Literatura na Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, afirma que "ao compartilhar as impressões sobre uma leitura passamos a saber os significados que a obra tem para os outros, o que enriquece nosso repertório". Outra vantagem desse diálogo permanente é a troca de indicações de textos e autores.

sábado, 18 de setembro de 2010

Da religiosidade ao ateísmo niilista. Márcio Lima *

A Idade Média foi um período histórico em que o cristianismo se tornou a crença predominante em toda Europa Ocidental.1 Em quase todo continente, a maior parte da vida social, moral e política das pessoas era determinada pelos ensinamentos e pela ação da Igreja Católica Romana.

A disseminação dos dogmas cristãos era tão intensa que no século IX, não existia na Europa Ocidental ninguém que não acreditasse em Deus. A Igreja controlava a fé, normatizava os costumes, a produção cultural, o comportamento e, sobretudo, a ordem social. Até mesmo o tempo era controlado pela religião cristã, pois, as pessoas marcavam o ritmo de suas vidas pelo toque dos sinos das igrejas. Como eram completamente voltados para as práticas religiosas, acreditavam que a vida na Terra seria apenas um momento antes da eternidade, que seria vivida ao lado de Deus.

A influência da Igreja também se fazia presente nas relações políticas, onde os Papas sagravam os Reis e legitimavam o poder dos senhores feudais. Como a sociedade era constituída por pessoas iletradas e desprovidas de conhecimento, a Igreja mantinha o controle do saber erudito, pois, detendo informações e conhecimentos importantes, garantia de forma inabalável a extensão de seu domínio ao longo de vários séculos.

Aqueles que questionavam ou discordavam das práticas impostas pelos dogmas religiosos, eram considerados adversários da Igreja de Deus, chamados de hereges. Contra os hereges, a religião desencadeou uma guerra sem tréguas. Como forma de repressão, criou a Excomunhão e o Tribunal do Santo Ofício, conhecido como Santa Inquisição. A excomunhão era o ato que impedia o cristão receber os benefícios da salvação, concedidos por seu intermédio. Nesse caso, era preferível para muitos homens medievais, morrer a ser excomungado. A Inquisição julgava os hereges dissidentes e os que recusavam a se retratar eram condenados à morte na fogueira.

Na Filosofia, os pensadores medievais, chamados doutores da Igreja, voltaram-se para as questões relativas aos dogmas e aos preceitos da fé, combinando por vezes elementos da filosofia greco-romana com ensinamentos cristãos. A Escolástica foi a filosofia predominante e representava uma tentativa de conciliar fé e razão à luz do pensamento aristotélico, agregando elementos da filosofia pagã com a doutrina cristã.

No campo do conhecimento científico, grande parte dos historiadores afirma que a Igreja pouco, ou nada, favoreceu ao seu crescimento. Aqueles que tentaram produzir um saber científico sem o aval da religião cristã foram reprimidos. Roger Bacon, monge franciscanos, foi condenado à prisão, Galileu foi reprimido e Giordano Bruno foi condenado à fogueira. (sendo os dois últimos pós-medievais)

[...] O cristianismo rompeu a união entre o homem e a natureza, entre o espírito e o mundo carnal, potencialmente distorcendo o relacionamento entre os dois em direções opostas e atormentadas: o ascetismo e o ativismo. [...] Ambrósio de Milão expressou a nova opinião oficial ao condenar como ímpias até as puramente teóricas ciências da astronomia e da geometria. [...] 2

Até meados do século XVII, a fé cristã permeava toda e qualquer parte da organização social, política e econômica da Europa e dos Países por ela colonizada.3 Porém, novos acontecimentos mudaram o rumo da história. A partir do Renascimento,4 deu-se início ao embate entre Deus (teocentrismo) representado pela Igreja e o homem (antropocentrismo). O mercantilismo incentivou as Grandes Navegações, época em que foi percebida a possibilidade de se navegar diretamente pelos mares, já que a terra tinha a forma esférica e não plana como se acreditava na Idade Média. O Capitalismo foi tomando lugar na economia, contrariando a Igreja que condenava o lucro e a usura. A própria Reforma Protestante5 representou a possibilidade de se questionar os dogmas da Igreja Romana. No século XVIII, o Iluminismo,6 com suas idéias críticas e libertárias, propiciou o avanço da racionalização na sociedade. A produção cultural se deslocou do domínio da Igreja (o sagrado) para o das pessoas comuns (o profano, o leigo). Começava-se a laicização ou dessacralização, era a chamada Idade Moderna. Deus, tendo a Igreja como seu principal representante na terra, começava a perder seu espaço e sua autoridade entre os homens, que pouco a pouco se desprendia da dogmática religiosa.

A Modernidade é marcada, principalmente, pela nova concepção do pensar. A rejeição de Deus, dos dogmas e instituições eclesiásticas; o individualismo; a crítica das ilusões; o desenvolvimento das técnicas e o fortalecimento do Estado democrático. A ruptura do indivíduo com o bloco sócio-religioso, aparece logo no início da modernidade, tendo conseqüências em todos os segmentos: cultura, economia, direito e política.7 Para os modernos, a vida moral deverá desprender-se da religião. A Igreja terá que renunciar ao governo e ao controle da vida política.

No pensamento moderno, Descartes rompeu com o aparato escolástico e iniciou o discurso racional. Kant, com sua visão agnóstica, afastou a fé de qualquer entendimento racional (Fé e razão atuam distintamente). Strauss identificou a vida de Cristo com a Teoria do Mito, entendendo o Evangelho como algo historicamente datado, longe de qualquer caráter sobrenatural ou divino. Feuerbach assegurou ser Deus uma projeção dos desejos de perfeição do homem. Para ele, era a alienação do homem que havia criado a crença no Ser Supremo. Marx afirmou que a religião seria o ópio do povo. Darwin, com sua "Origem das Espécies",8 abalou a teoria bíblica da criação do homem e da natureza. Por fim, Freud mostrou que as ações humanas são determinadas pelo inconsciente e que Deus seria uma projeção da imagem paterna impregnada desde cedo na mente do homem.

A modernidade destruiu a "totalidade" da religião, ou seja, separado o que era revelado por Deus e codificado pela Igreja, daquilo que era percebido pelos homens e por eles transformado em teorias. A religião autorizou a Ciência, como também a Arte, a Política e, mais tarde, a Ética a adquirir sua autonomia e constituir sua própria escala de valores. Uma distinção encontrada no próprio livro sagrado cristão, (dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus) 9 divisão direta entre poder temporal e poder espiritual. A partir daí, uma nova visão vai marcar o pensamento do homem moderno. Se antes era tarefa da religião oferecer uma consciência à sociedade, agora cabia às Ciências apresentar explicações racionais para os fenômenos ocorridos no mundo (dentro e fora dele).

Essa forma de pensamento teve seu ponto culminante no século XX, quando não só a Ciência desagregou, de forma definitiva, qualquer apelo ao sobrenatural, como também, a maioria das constituições políticas que surgiram, afirmaram sua posição secular e agnóstica, separando-se das crenças. O próprio regime socialista soviético chegou a se declarar um Estado Ateu. Desta forma, mesmo que a religião ainda constitua um poderoso fator de mobilização das massas e um insubstituível apoio ético e moral, faz-se necessário o reconhecimento de que as elites modernas deram as costas para Deus.

Diante desse contexto, e analisando de forma reflexiva a sua volta, Nietzsche (1844-1900) declarou, nas palavras do personagem Zaratustra, A morte de Deus:

"Zaratustra, porém, ao ficar sozinho falou assim ao seu coração:  Será possível que este santo ancião ainda não ouviu no seu bosque que Deus já morreu?"10 

A morte de Deus é a constatação do niilismo na modernidade,  é a percepção cada vez maior da ausência de Deus no pensamento e nas práticas do Ocidente moderno. Para ele, o homem moderno perdeu a confiança em Deus e suprimiu a crença no "mundo verdadeiro", o mundo perfeito que vem após a morte do corpo material, originário da metafísica e do cristianismo. A substituição da Teologia pela Ciência e o ponto de vista de Deus pelo ponto de vista do homem, provocou a ruptura com os valores absolutos, com a essência e com o fundamento divino. 

Na verdade, a morte de Deus já se fazia presente na consciência do europeu desde o século XIX, o que ainda não haviam percebido era que esse fato implicava  na desvalorização dos valores morais, ou seja, o fim do Deus cristão também foi o fim da moral por ele estabelecido, através do cristianismo. O culto do progresso, a proclamação da igualdade e o crescimento do conhecimento científico, transformaram a humanidade numa massa de indivíduos indefinidos ainda mais escravizados, sem força e sem autenticidade. Ao perder a legitimidade provinda de suas origens tradicionais e as suas garantias exteriores, representada pelos deuses, heróis e as monarquias de instituição divina, a sociedade moderna é condenada a tomar a si mesma como fundamento, pois não existe mais proteção divina (ela é auto-suficiente, atéia). Terá agora que reinventar seus próprios valores.

A modernidade apreende então uma crítica aos seus próprios valores. As grandes Guerras, os Estados totalitários socialistas, nazistas e fascistas fizeram, por si só, as críticas práticas. A crítica agora não é feita apenas aos antigos valores, às hierarquias do antigo regime, à moral religiosa nem às autoridades hereditárias. A crítica visa agora os próprios valores modernos, a liberdade, a igualdade e a razão.

O século XX foi a época em que a razão se propôs a guiar a humanidade. O triunfo das ciências iluminou as zonas de incertezas e ilusão que atormentava os homens. A modernidade se apresentou como um começo absoluto de uma nova era, a instituição de um novo mundo e de novos valores edificados sobre o reino da Razão. Até que o totalitarismo desenfreado e as duas Guerras Mundiais puseram em contradição a sociedade moderna. Em 1914, a primeira Grande Guerra deu início à barbárie. As forças criadas para a organização e para a técnica contrapuseram-se às forcas da razão e da ciência que outrora lhes haviam produzido. 

A partir deste momento, a Europa (e o Ocidente) entra em estado de convulsão. Em plena guerra, a Revolução Bolchevique assume o poder na Rússia, onde mais tarde se transformara numa ditadura socialista, influenciando também outros países. Em 1933, o nazismo chega à Alemanha e, a partir daí, grande parte da Europa vai permanecer sob o domínio de ditaduras nazi-fascistas. Em 1936, começa a Guerra Civil espanhola que antecede a Segunda Guerra Mundial, tendo como conseqüência o holocausto de judeus. Na atualidade, o terrorismo globalizado, seguido da violência brutal contra os direitos humanos, evidencia um novo surto de barbárie.

O homem moderno agora faz pergunta tipo: Como ser um santo sem Deus? Ou como substituir Deus? Os primeiros modernistas responderam que seria através da moral da humanidade, baseada na razão. Mas esta razão é fria, seca e individualista. Na medida em que os valores se contradizem, os fatos e a realidade demonstram inconsistência. Como fugir da barbárie? A segunda fase da modernidade, iniciada com a primeira Grande Guerra, faz a humanidade tomar consciência de que é frágil e que sua salvação encontra-se na sua própria capacidade de recriar, sem cessar, seus valores e suas instituições. Deverá o homem moderno agora, relançar permanentemente a democracia. A pergunta talvez seja a seguinte: Recriar valores e relançar democracia, baseado em quê? Na fé ou na ciência? O homem moderno parece perdido, solitário e desprotegido.
 
[...] parece, pelo menos a esses, que um sol acaba de se pôr, que uma antiga e profunda confiança se tornou dúvida: o nosso mundo parece-lhes fatalmente todos os dias mais vesperal, mais desconfiado, mais estranho, mais ultrapassado. [...] 11 

Nietzsche percebeu a humanidade em sua elevada pretensão de aumentar seu conhecimento e seu poder, sem perguntar sobre os fins (mais tarde, a bomba atômica foi o exemplo). O moderno, acreditando que tudo seria explicado, descobre que há uma falha na explicação. Agora, tudo se afunda, nada mais tem sentido. Percebe-se que nada é visado, não existe objeto futuro, instalou-se o niilismo. O homem será agora uma consciência infeliz, sabe que o mundo, tal como imaginara, não existe, e o que existe de fato, não deveria existir.

A proposta nietzscheana é a transmutação dos valores, no qual surge o (Übermensch) super-homem, aquele que através da vontade de poder, rompendo com os valores cristãos, superará o niilismo e criará novos ideais.
 
Eu vos apresento o super-homem! O Super-homem é o sentido da terra. Diga a vossa vontade: seja o Super-homem, o sentido da terra. 12 

Para Nietzsche, o niilismo tem início ainda na antiguidade a partir da teoria socrático-platônica que inventa um mundo ideal, onde a verdade pode ser encontrada, e condena o mundo real, dito das aparências e ilusões. Esta teoria é mantida pelo cristianismo. Porém, se esse mundo em que vivemos não existe, toda filosofia desenvolvida em nome dele é um erro, o que remete ao niilismo do homem moderno. Após a morte de Deus, a interpretação moral da vida e do mundo se esfacelou, abrindo caminho para a propagação do niilismo.

A morte de Deus marca o fim da dualidade entre o sensível e o supra-sensível, o mundo que sobrou parece falso e desprovido de valor. Ao eliminar o mundo ideal, formulado pelo cristianismo, a morte de Deus elimina também o mundo real em que estamos. Como conseqüência, se o mundo verdadeiro não existe, tudo em que se acreditou até aqui, era mentira. A morte de Deus criou um vazio na modernidade. Este vazio pode ser preenchido, segundo Nietzsche, pelo super-homem, produto da manifestação de novos valores. 

Noutros tempos, blasfemar contra Deus era a maior das blasfêmias; mas Deus morreu, e com ele morreram tais blasfêmias. Agora, o mais espantoso é blasfemar da terra, e ter em maior conta as entranhas do impenetrável do que o sentido da terra. 13 

Diante dos fatos, o homem moderno se encontra cansado da vida, sua vontade deseja o nada, pois há muito já está esgotada. A morte de Deus representa a falta de perspectiva para criar novos valores e superar o estado niilista em que se encontra. Até este acontecimento, toda moral era divina, aceitava-se e obedecia-se sem questionar, mas, e agora? A desvalorização desses valores trouxe o niilismo, a falta de sentido. Porém o niilismo possibilita também, como dizia Nietzsche, a possibilidade de criar novos valores, uma mudança na mentalidade, que só a partir daí seria possível. A questão é: qual a base para fundamentar esses novos valores, a fé representada pela religião, ou a razão representada pelas ciências? Na contemporaneidade, o homem tem bastante o que refletir. Só através da reflexão analítica a razão poderá prevalecer sobre o niilismo.

(*)  Graduando em História e Filosofia

1. Exceto na península ibérica, ocupada pelos árabes de religião muçulmana.
2. ANDERSON, Perry. Passagem da Antiguidade ao Feudalismo, Brasiliense. p.128
3. Os países colonizados seguiam a religião oficial das Metrópoles.
4. Movimento cultural que teve início na península itálica ainda no século XIV.
5. Movimento de transformação religiosa representado inicialmente por Martinho Lutero.
6. Movimento cultural que se desenvolveu na Inglaterra, Holanda e França, nos séculos XVII e XVIII.
7. Sendo fato de objeção entre alguns pensadores contemporâneos, a total laicização do Estado.
8. Livro em que Darwin propõe a teoria de que os organismos vivos evoluem gradualmente através da selecção natural.
9. Bíblia Sagrada - Mateus 22:21
10. NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra, tradução Pietro Nassetti. São Paulo. Martin Claret, 2002. p.25
11. ____________________. A Gaia Ciência, tradução Jean Melville. São Paulo. Martin Claret, 2007. p. 181
12. NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra, tradução Pietro Nassetti. São Paulo. Martin Claret, 2002. p.25
13. Ibidem. p. 25
Referencias:
ALMEIDA, Giuliano Cézar Mattos de. Revista Ética & Filosofia Política, Volume 8, Número 1, junho/2005.
CARVALHO, José Jackson Carneiro de. A modernidade e os caminhos da razão: ensaio de Filosofia social e política, 2ª. ed. Atual, amp. – João Pessoa: Editora Universitária / UFPB, 2006.
NIETZSCHE, Friedrich. Breviário de citações ou para conhecer Nietzsche, seleção, tradução e notas de Duda Machado. 2ª ed. São Paulo, Landy, 2001.
___________, Friedrich. A Gaia Ciência, tradução Jean Melville. São Paulo. Martin Claret, 2007.
___________, Friedrich. Assim falou Zaratustra, tradução Pietro Nassetti. São Paulo. Martin Claret, 2002.

Fonte: texto enviado por e-mail pelo Cepec- Centro de Estudos Politicos Econômicos e Culturais. (Revisei ortográfico e gramaticalmente - Ramiro R. Batista)

Doc Puzzle - Doc.Puzzle



Documentários.

domingo, 12 de setembro de 2010

Ler não é tão importante

"O psicanalista e professor de literatura Pierre Bayard pede aos colegas: parem de fingir que lêem tudo e admitam que não é essencial ler um livro até o fim.


por Rita Loiola (Revista Superinteressante)

 

Pierre Bayard chega para a entrevista com o cabelo desarrumado, uma pasta de couro atulhada de livros e, embaixo do braço, o Libération, um jornal da esquerda francesa fundado pelo filósofo Jean-Paul Sartre. Não parece nem um pouco o mesmo sujeito que vem pedindo a seus colegas que confessem não ter lido todos os livros que citam nas notas de rodapé dos estudos acadêmicos. Psicanalista e professor de literatura na Universidade Paris 8, Bayard escreve ensaios com títulos que parecem picaretagem, do tipo Comment Améliorer les Oeuvres Ratées (“Como Melhorar as Obras Fracassadas”, sem edição brasileira) ou Como Falar de Livros Que Não Lemos, que virou best seller nos EUA, na Inglaterra e na França e acaba de ser lançado no Brasil. Apesar dos títulos, Bayard fala sério. Para ele, o que nos afasta dos livros é justamente a exigência de ler e a culpa por não conseguir ler obras inteiras. E é mais importante saber situar um livro num contexto que lê-lo inteiramente. No tradicional Café Zimmer, em Paris, (que era freqüentado pelos escritores Émile Zola e Proust, autores que ele apenas percorreu), Bayard afirma que é errado tentar impor regras para a leitura. “Ler um livro da primeira à última linha é uma entre mil formas de leitura que existem”, diz.

Quer dizer que é possível ser culto sem ler um único livro inteiro? 

Sem ler uma obra da primeira à última linha? Sim, claro! Para uma pessoa real­mente culta, o mais importante não é ter lido várias obras por completo, e sim saber se orientar, situar o livro e o autor dentro de um conjunto, para poder compará-los e relacioná-los com outros. É como um encarregado do tráfego ferroviário: ele precisa estar mais atento ao conjunto de vagões e ao cruzamento dos trens do que ao detalhe do interior de um vagão. Ter essa visão do conjunto é muito mais importante do que saber detalhes do interior de um livro.

Quase todo mundo defende que uma pessoa precisa ler muito, mas nem todos lêem? Por quê? 

É justamente essa obrigação de ter que ler que nos impede de chegar aos livros. Sacralizamos tanto os livros, o fato de ler e ter que guardar todas as informações e detalhes dos textos, que acabamos morrendo de medo das palavras e, então,... não lemos. Prefiro evitar todo tipo de “dever” ou “obrigação” sobre esse assunto. A leitura é um ato de liberdade. Não há como impor regras a ela.

Como assim?

Eu, por exemplo. Nunca li o Ulisses, de James Joyce, e nem pretendo. E nem por isso deixo de conhecê-lo. Sei que a história se passa em apenas um dia, tem a ver com a Odisséia, de Homero, e sei de vários detalhes que me permitem ter uma ótima conversa sobre o texto com quem quer que seja. E para isso não preciso mergulhar em suas páginas. Quer ver outro ótimo exemplo? Todo mundo fala da Bíblia, mas são raríssimas as pessoas que a leram do começo ao fim. E, no entanto, é um dos livros mais citados do mundo. Há milhares de formas de abordar um livro e não somente sua leitura integral.

E um desses jeitos é justamente a não-leitura?

A relação com a leitura é complexa. Entre a leitura e a não-leitura há uma infinidade de graus. Não podemos achar que a leitura da primeira à última linha é a única existente – até porque muitas vezes não fazemos isso. Podemos simplesmente percorrer as páginas do livro, ou ler o título e a orelha, ou então passar os olhos por um ensaio sobre a obra sem nunca tê-la entre as mãos. Um livro também pode entrar na nossa vida e fazer parte dela quando ouvimos falar sobre ele. Ler ou ouvir o que os outros dizem são atitudes que fazem com que tenhamos uma idéia e um julgamento sobre o seu conteúdo. E tudo isso já é uma relação com suas páginas, é também uma forma de ler.

Não precisamos sentir culpa ou vergonha por não ter lido as grande obras?

Não – é muito melhor ser sincero com si próprio. A obrigação de ler os clássicos ou de ler os livros do começo ao fim é tão grande que faz muita gente mentir que leu, até mesmo professores universitários. Instaura-se assim uma mentira coletiva da cultura sem lacunas, de que devemos nos angustiar por não termos tanto quanto poderíamos. Mas não precisamos ter vergonha nem culpa. É melhor praticar a não-leitura ativa, ou seja, admitirmos que não lemos tal obra e, mesmo assim, falar sobre ela.

Você fala sério quando sugere que a não-leitura seja ensinada nas escolas? 

Eu prefiro não dar conselhos. A idéia do que escrevi é mostrar uma forma leve e divertida de tirar a culpa do leitor por ele não ter lido essa ou aquela obra. Fazer com que as pessoas reflitam sobre a ação de ler, percam o trauma e, mais aliviadas, possam ler mais e livremente. Depois que os livros saíram, dezenas de pessoas vieram me confessar que ficaram mais calmas depois de perceber como ficam culpadas por não ter lido as grandes obras.

Se não temos a obrigação de ler tudo, por que alguém deveria ler seu livro?

Não deveria. Eu escrevo pensando em pessoas que se interessam pelos livros e que gostam de refletir sobre hábitos de leitura. Estudantes, professores, pessoas que estão na área das letras. Ninguém tem a obrigação de ler o que escrevi. Não quero dar conselho algum, da mesma maneira que não concordo com a idéia de que alguém “deve” ler Marcel Proust, “tem que” ler James Joyce.

Então podemos falar de livros que não lemos?

Sim, é até melhor que a gente fale sobre um livro sem tê-lo lido completamente. Um debate nunca se limita a um livro: geralmente acaba na discussão sobre nossas noções de cultura e literatura. Se eu tiver as mesmas idéias e referências idênticas às das pessoas com quem estou conversando, qual a graça? Aí não existe uma boa discussão, não existe troca de idéias, não existe prazer. A boa discussão está em nunca conhecer tudo.

Não há o perigo de incentivar a preguiça de ler?

Não quero de modo algum dizer que não precisamos dos livros. Eu adoro ler, leio muito e não escrevi um tratado para que as pessoas parem de ler. A idéia é somente tirar o livro do pedestal do sagrado em que ele está. Quem incentiva a preguiça é a exigência de ler. Na escola, os alunos são obrigados a decorar detalhes do texto. Isso os afasta da leitura. Se o aluno não tem uma memória de elefante, pronto, vai mal na prova. A temida ficha de leitura, por exemplo. Eu nunca consegui fazer uma ficha de leitura decente na minha vida, porque tenho uma memória terrível. E meu filho, quando passou por essa tortura, me disse que era esse trabalho de decorar personagens e o enredo que o desencorajava a ler. Foi aí que comecei a pensar sobre esse trauma e sobre os milhares de caminhos que existem quando se trata de literatura.

Você fala que a “desleitura” é um desses caminhos. Dá para ler um livro se esquecendo dele?

Assim que terminamos um livro entramos em um movimento direto rumo ao esquecimento. Vamos esquecendo as passagens, as palavras, e acabamos transformando a obra lida em algo completamente diferente. Se li todo o Crime e Castigo e depois esqueci, isso quer dizer que eu li o livro ou não? E se não me lembro de nada? Se apenas o folheei, isso quer dizer que não li? Se alguém tem uma péssima memória – como eu –, acaba esquecendo inclusive se leu ou não o texto. Mas, cada vez que citamos a obra, ela vai se tornando outra coisa, vai mudando. É isso que eu chamo de desleitura, esse movimento pessoal rumo ao esquecimento.

Isso é bom ou ruim?

É bom. O filósofo Montaigne, por exemplo, era um esquecido célebre. Há passagens dos Ensaios em que ele diz que as pessoas mencionavam seus escritos e ele não percebia. Imagino que minha memória seja ruim como a dele. Já precisei reler meus livros porque os jornalistas começaram a solicitar entrevistas e eu não tinha idéia do que estavam falando. Mas isso faz também com que possamos ter conversas enriquecedoras sobre esses textos, porque nunca uma pessoa vai ter dentro de si o mesmo livro que outra. Cada um adiciona coisas suas às obras que leu. Há diferenças culturais que fazem com o que um livro possa ter infinitas leituras.

Em Como Falar de Livros Que Não Lemos, você dá conselhos e técnicas a quem quer ter essa atitude. As dicas vieram de experiência própria?

Quem vive no mundo da literatura, como no caso de professores como eu, sabe, na verdade, que não é preciso ler para falar de livros. Professores, críticos e jornalistas não têm tempo hábil de ler tudo o que poderiam, e isso acontece desde sempre. Então por que não admitem isso? Não é preciso decorar pontos e vírgulas para ter uma opinião sobre as obras. Para essas pessoas, criei algumas técnicas. Mas não vou enumerar para você porque eu sei que tem muita gente que vai comprar o livro só por causa dessa parte. [Tudo bem, Bayard, nós mostramos algumas de suas dicas no boxe abaixo.]

Você está ciente que o livro pode ser vendido como um guia dos picaretas da leitura?

Mas claro! Essa é a brincadeira, mas é muito melhor guardar segredo. Vai que o livro vira best seller também no Brasil.

Guia da não-leitura

As dicas de Bayard para você comentar livros que não leu*
Não tenha vergonha

“Não há nenhuma razão, contanto que tome coragem, para não dizer francamente que não leu este ou aquele livro, nem para se abster de falar a seu respeito. Não ter lido um livro é a hipótese mais comum, e aceitá-la sem se envergonhar é uma premissa para começar a se interessar pelo que está verdadeiramente em jogo, que não é um livro, mas, sim, uma situação de discurso.”

Invente o livro

“A obrigação de falar de livros não lidos não deve ser vivida de maneira negativa, em meio à angústia ou ao remorso. Para quem sabe vivê-la positivamente, para quem consegue se livrar do peso de sua culpa e prestar atenção na situação em que se encontra e em suas potencialidades múltiplas, ela oferece, com a abertura da biblioteca virtual, um autêntico espaço de criatividade.”

Imponha sua idéia

“Se o livro é menos o livro do que o conjunto de uma situação de palavra onde ele circula e se modifica, é a essa situação que é preciso ser sensível para falar com precisão de um livro sem tê-lo lido. Pois o livro não está em causa, mas, sim, o que ele se tornou dentro do espaço crítico onde intervém e está sempre em transformação, e é sobre esse objeto móvel que é preciso estar em condições de formular proposições.”

Fale de si próprio

“Se tivermos em mente, nas múltiplas situações complexas analisadas por nós, que o essencial é falar de si e não dos livros, ou falar de si através dos livros – a única maneira, provavelmente, de falar corretamente deles –, a percepção dessas situações se modifica sensivelmente, uma vez que são os múltiplos pontos de encontro entre a obra e a própria pessoa que é urgente enfatizar.”

* Extraído do livro Como Falar de Livros Que Não Lemos.

Pierre Bayard

• Tem 52 anos e dá aulas de literatura na Paris 8 – a mesma universidade que acolheu intelectuais como Lacan e Foucault.
• Nasceu em Amiens, uma cidadezinha do norte da França cujos habitantes são conhecidos pelo bom humor e pela ironia.
• Gosta de filmes americanos de aventura, como O Feitiço do Tempo, e até os utiliza como exemplos em seus ensaios.
• Mudou com os pais para Paris aos 11 anos e descobriu que nasceu para o mundo das letras. Escrever é o seu passatempo preferido desde os 14 anos."
Fonte: Revista Superinteressante.

sábado, 4 de setembro de 2010

Como divulgar seu blog de maneira fácil (dicas úteis)

Seu blog não aparece no Google?

Depois que passei a auxiliar no fórum do Blogger, me deparei com uma pergunta muito comum por lá: Por que é que meu blog não aparece no Google? Muitos blogueiros iniciantes, ao criarem seus blogs, desejam vê-lo nas páginas dos mecanismos de busca, principalmente do Google, mas nem sempre isso acontece de imediato.

O Google costuma indexar rapidamente os blog hospedados no Blogger/Blogspot, mas existem alguns detalhes que podem agilizar e melhorar o processo.

1 – Enviar a url do blog para o Google

O Google mantém uma página própria para este fim - Adicionar/Atualizar sua URL
Tutorial Dicas Blogger. Todos os direitos reservados.

Também é possível enviar seu blog para o Yahoo Search e para o Bing.

2. Configurações no painel do Blogger

Acesse o painel do Blogger, clique em configurações e na aba básico, procure por “permitir que mecanismos de pesquisa localizem seu blog?”. Escolha a opção sim.
painel do Blogger

3. Enviar sitemaps pelo Google Webmaster Tools

O sitemap é um arquivo que contém todos os posts do seu blog. Então é importante apresentá-lo para o Google. Saiba como fazer isso, acessando os links abaixo:
4. Aprender o básico de SEO

SEO - Search Engine Optimization – são técnicas para melhorar o posicionamento de um site nos mecanismos de busca. Já abordamos esse tema nos seguintes posts:
Lembrem-se que “o conteúdo é rei” e que estas dicas vão ajudar na indexação do blog e não, necessariamente, em fazer com que ele atinja as primeiras posições. 

Confiram o guia para blogueiros lançado pelo próprio Google em 2008, com tradução do blog Mestre Seo - Google Lança o Guia de Melhores Práticas para Blogueiros


O Google usa mecanismos de buscas que trabalham com dados como: visitas, indicações de outros sites, periodicidade de postagem. Esses dados fazem parte do SEO (sistema que busca informações relevantes via palavra-chave). Pode ser que seu blog esteja desatualizado, assim o Google demora a passar por ele fazendo varredura. O ideal é voce localizar a palavra que mais se identifica com o seu conteudo e passar a usá-la em todos os textos.

Fiz isso no meu blog Cotidiano em Destaque (http://cotidianoemdestaque.blogspot.com). Aproveite e coloque seu blog em indexadores (referenciais para blogs).

Abaixo te dou algumas dicas.

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1001 FILMES para ver antes de morrer. Steven Jay Schneider

Conforme seu título já sugere, 1001 filmes para ver antes de morrer é um livro que busca não apenas informar e sugerir, mas também motivar: transformar leitores curiosos em espectadores apaixonados e deixar claro que a pressão é imensa, o tempo é curto e o número de filmes que devem ser assistidos se tornou realmente grande.



Hoje em dia, listas dos "10 mais" sobrevivem quase exclusivamente como enquetes anuais dos críticos e debates sobre os "100 melhores filmes" tendem a se restringir ou a gêneros específicos - como comédia, terror, ficção científica, romance ou faroeste - ou a cinematografias nacionais, como as da França, China, Itália, Japão ou Inglaterra. Tudo isso indica a impossibilidade - ou pelo menos a irresponsabilidade - de se trabalhar com um número menor do que (digamos) mil, quando se pretende preparar uma lista dos "melhores", ou dos mais valiosos, importantes ou inesquecíveis filmes de todos os tempos; uma lista que queira fazer justiça e abranger toda a história da mídia cinematográfica.

Com o objetivo acima em mente, mesmo 1001 rapidamente começa a parecer um número pequeno demais. Talvez nem tanto, se deixássemos de fora os filmes mudos; ou de vanguarda; ou do Oriente Médio; ou as animações; ou os documentários; ou os curta-metragens... Essas estratégias de exclusão, contudo, acabam sendo apenas maneiras de diminuir a pressão, de traçar linhas arbitrárias na areia cinematográfica e de se recusar a tomar a série de decisões difíceis, porém necessárias, para se ter uma seleção limitada de filmes que trate todos os tipos e escolas e tradições diferentes que compõem a arte do cinema com o respeito que lhes é devido. O livro que você tem em mãos assume um grande risco ao oferecer uma lista de filmes imperdíveis que abrange todas as épocas, gêneros e países. Contudo, este é um risco que vale a pena correr e, se você estiver disposto a ver todos os filmes discutidos aqui, pode ter certeza de que morrerá um cinéfilo feliz. Resumindo: quanto mais filmes você vir, melhor.

Então, como determinamos quais 1001 filmes você deve ver antes de morrer? Seria muito mais fácil, e geraria menos controvérsia, se tivéssemos que listar 1001 filmes que devem ser evitados a qualquer custo! Não é nada surpreendente quando se descobre que a crítica de cinema não pode ser considerada uma ciência exata, e não é exatamente um exagero dizer que o Perdidos na noite de uma pessoa pode muito bem ser o Ishtar de outra. Talvez haja maneiras de comparar objetivamente - e até classificar - ciclos, movimentos e subgêneros altamente codificados e historicamente específicos, como o thriller italiano da década de 70, tendo por base, neste caso, a violência estilizada, as narrativas labirínticas e a identificação psicológica. E talvez seja legítimo separar os clássicos indiscutí veis de Hitchcock (Intriga internacional, Janela indiscreta, Um corpo que cai, Psicose, Os pássaros, etc.) dos que são geralmente considerados filmes mais fracos do diretor (Cortina rasgada, Trama macabra, Topázio, Agonia de amor). Porém, em que se basear para escolher entre A hora da partida, de Tsai Ming Liang, e O que terá acontecido a Baby Jane, de Robert Aldrich? Ou entre Viagem à Lua, de George Méliès, e Uma questão de silêncio, de Marleen Gorris? Se o objetivo deste livro é mesmo incluir um pouco de tudo, então como evitar que a lista de 1001 filmes resultante se torne uma grande e diversificada amostra da produção cinematográfica - um caso de mera variedade em detrimento do verdadeiro valor?

São boas perguntas. O primeiro passo para determinarmos os 1001 filmes a serem incluídos aqui envolveu analisar atentamente o número de listas já existentes dos "favoritos", "maiores" e melhores" filmes e priorizar os títulos com base na freqüência com que cada um aparecia nelas. Isso nos ajudou a identificar uma espécie de cânone de clássicos (incluindo os modernos e contemporâneos) que acreditamos merecer um lugar de destaque neste livro, baseando-nos simultaneamente em qualidade e reputação. O que não quer dizer, de forma alguma, que todos os filmes presentes nessas listas mais curtas - e por vezes peculiares - entraram em nossa lista final, mas o exercício nos deu ao menos alguns pontos de referência essenciais e reduziu significativamente a inevitável natureza subjetiva da seleção.

Depois de chegarmos a um conjunto provisório de cerca de 1300 títulos, partimos para revisar a lista de novo (e de novo, de novo, de novo...) com o duplo - e conflitante - objetivo de reduzir o número total e ainda abranger a contento os vários períodos, cinematografias nacionais, gêneros, movimentos, escolas e autores notáveis. Com todo o respeito à última categoria, interpretamos a noção de "autor" com a maior flexibilidade possível, de modo a incluir não apenas diretores (Woody Allen, Ingmar Bergman, John Cassavetes, Federico Fellini, Jean-Luc Godard, Abbas Kiarostami, Satyajit Ray, etc.), como também atores (Humphrey Bogart, Marlene Dietrich, Toshirô Mifune), produtores (David O. Selznick, Sam Spiegel, Irving Thalberg), roteiristas (Ernest Lehman, Preston Sturges, Cesare Zavattini), fotógrafos (Gregg Toland, Gordon Willis, Freddie Young), compositores (Bernard Hermann, Ennio Morricone, Nino Rota), etc.

Também tomamos o cuidado de não dar preferência automática - passe livre, por assim dizer - a produções autodesignadas como "de alto nível" ou exemplos de grande arte cinematográfica (épicos históricos, adaptações da obra de Shakespeare, experimentos dos formalistas russos), deixando de lado os gêneros considerados "menores" (comédia pastelão, filmes de gângster da década de 30, cinema de blaxploitation), ou até mesmo filmes de méritos estéticos relativamente questionáveis (Pink Flamingos, Os embalos de sábado à noite, A bruxa de Blair), franco apelo popular (Top Gun - Ases indomáveis, Quero ser grande, E.T.: o extraterrestre), ou aqueles de valor ideológico ou ético questionáveis (O nascimento de uma nação, Monstros, O triunfo da vontade, Os 120 dias de Sodoma). Em vez disso, nos esforçamos para julgar cada um dos candidatos por suas próprias qualidades, o que significava, para começo de conversa, descobrir da melhor forma possível em que consistia a "qualidade" em questão - o que nem sempre é tarefa simples ou óbvia, como no caso de Pink Flamingos, cuja infame chamada já dizia "um exercício de mau gosto" - e então encontrar maneiras de separar o joio do trigo (mesmo que a diferença entre os dois pareça tão pequena a ponto de ser indiscernível ou irrelevante).

Existe um velho ditado que diz: "Mesmo que você coma filé mignon todos os dias, de vez em quando vai querer um hambúrguer." Em outras palavras, mesmo que seu gosto cinematográfico pese bastante para o lado dos clássicos mundiais reconhecidos (Cidadão Kane, Rashomon, Touro indomável e Encouraçado Potemkim), ou dos tesouros do cinema de arte europeu (A aventura, Hiroshima meu amor e Último tango em Paris), em algum momento você irá querer assistir a um filme que se presta a objetivos completamente diferentes, seja ele um megassucesso hollywoodiano (O parque dos dinossauros, O império contra-ataca, Titanic), uma bizarrice underground (Scorpio Rising, Criaturas flamejantes, Hold me While I'm Naked), ou uma curiosidade cult (El Topo, O segundo rosto, Slacker, Mundo cão, O homem de ferro). 

Da forma como pensamos este projeto, nossa tarefa principal era garantir que, qualquer que fosse seu gosto cinematográfico genérico, ou naquele dia específico em que você resolvesse experimentar algo diferente, este livro pudesse ser um menu em que cada prato é sempre bom.

Finalmente, depois de fazer os derradeiros e sofridos cortes necessários para reduzir a lista para "meros" 1001 filmes, o último passo era ajustar os resultados com base nas opiniões e sugestões oferecidas pelo nosso estimado grupo de colaboradores, cuja experiência coletiva, o conhecimento e a paixão em assistir, debater e escrever sobre filmes garantiram que, embora nenhuma lista de "melhor qualquer coisa" possa ser perfeita (seja lá o que isso signifique) ou totalmente incontestável (não seria uma chatice?), a que você tem nas mãos fosse a melhor possível. No entanto, não é apenas a lista em si que torna este livro tão especial, mas também as resenhas encomendadas que acompanham cada um dos 1001 filmes - ensaios concisos, bem escritos e estimulantes que combinam perfeitamente detalhes importantes do enredo, comentários perspicazes, contexto histórico e cultural e uma boa quantidade de curiosidades (Quer dizer que pensaram em chamar George Lucas para dirigir Apocalipse Now? Quem diria!). Não se deixe enganar pela facilidade com que estes ensaios são digeridos. É preciso um talento único - ou até arte - para se escrever um texto profundo e cativante de apenas 500 palavras sobre filmes como Casablanca, Rastros de ódio ou A regra do jogo, quanto mais 350 palavras sobre Boogie Nights - Prazer sem limites, Gritos e sussurros ou O mensageiro do diabo, ou (pasmem!) 200 palavras sobre Marketa Lazarova, O pianista, ou Cléo das 5 às 7. De alguma forma, e com grande presença de espírito, eles conseguiram, e de modo brilhante.

Quanto à minha experiência em trabalhar neste livro, só posso dizer que as dores de ter que cortar vários dos meus favoritos foram mais do que compensadas pelo prazer de admirar a seleção resultante, de ler tantas resenhas de críticos maravilhosos e descobrir tanto sobre a história, as tradições e os tesouros escondidos que eu não conhecia. Mesmo que você tenha visto todos os 1001 filmes discutidos nestas páginas (parabéns, embora eu duvide bastante), tenho certeza de que será tremendamente recompensador ler sobre eles aqui.

Como editor geral de 1001 filmes para ver antes de morrer, tenho a honra e o privilégio de agradecer a todas as pessoas responsáveis por garantir o sucesso inevitável deste projeto ambicioso. Minha gratidão a Laura Price, Catherine Osborne e ao restante da equipe da Quintet Publishing, uma divisão do Quarto Group; a Andrew Lockett, do British Film Institute; aos mais de 60 colaboradores de nove países diferentes que trabalharam com prazos apertados e um editor carrasco (eu) para produzir as resenhas divertidas e informativas; e, como sempre, a minha família, meus amigos e colegas, cujo apoio e incentivo continua sendo minha arma nem tão secreta assim.

STEVEN JAY SCHNEIDER
EDITOR GERAL

* * *

Nota da edição brasileira
 
Os filmes que foram lançados no Brasil aparecem no livro com o título em português e abaixo dele, entre parênteses, o título original na língua do país de origem. Os filmes que não foram veiculados no Brasil entram com seu título original e uma tradução aproximada no texto
.

Fonte: revista Veja.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A mente apaga registros duplicados. Airton Luiz Mendonça



(Artigo do jornal o Estado de São Paulo )

O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos.
 
Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou janelas, sem relógio... você começará a perder a noção do tempo.

Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sanguínea.

Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol...
 
Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar: nosso cérebro é extremamente otimizado.

Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho.

Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia.

Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade.

Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia e, portanto, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo.
 
É quando você se sente mais vivo.
 
Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e 'apagando' as experiências duplicadas.

Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente.

Quando começamos a dirigir automóveis, tudo parece muito complicado, nossa atenção parece ser requisitada ao máximo.

Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular ao mesmo tempo.

Como acontece?

Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente); O cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa , no lugar de repetir realmente a experiência).

Em outras palavras, você não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos de troca de marcha, leitura de placa...

São apagados de sua noção  de passagem do tempo...

Quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a experiência repetida.

Conforme envelhecemos, as coisas começam a se repetir: as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações... enfim... as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo.

Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década.

Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a... ROTINA!

Não me entenda mal.

A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa, mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos os anos.

Felizmente há um antídoto para a aceleração do tempo: M & M (Mude e Marque).

Mude, fazendo algo diferente e marque, fazendo um ritual, uma festa ou  registros com fotos.

Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias sempre e, preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no seguinte) e marque com fotos, cartões postais e cartas.

Tenha filhos (eles destroem a rotina) e sempre faça festas de aniversário para eles, e para você (marcando o evento e diferenciando o dia)...

Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de momentos usuais.
  
Faça festas de noivado, casamento, 15 anos, bodas disso ou daquilo, bota-foras, participe do aniversário de formatura de sua turma, visite parentes distantes, entre na universidade com 60 anos, troque a cor do cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre enfeites diferentes no Natal, vá a shows, cozinhe uma receita nova, tirada de um livro novo.

Escolha roupas diferentes, não pinte a casa da mesma cor, faça diferente.

Beije diferente sua paixão e viva com ela momentos diferentes.

Vá a mercados diferentes, leia livros diferentes, busque experiências diferentes.  
Seja diferente.

Se você tiver dinheiro, especialmente se já estiver aposentado, vá com seu marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países, veja outras culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos.

Em outras palavras: V-I-V-A. !!!

Porque se você viver intensamente as diferenças, o tempo vai parecer mais longo. 

E se tiver a sorte de estar casado(a) com alguém disposto(a) a viver e buscar coisas diferentes, seu livro será muito mais longo, muito mais interessante e muito mais v-i-v-o do que a maioria dos livros da vida que existem por aí.

Cerque-se de amigos.

Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares diferentes, com religiões diferentes e que gostam de comidas diferentes...
 
Enfim, acho que você já entendeu o recado, não é?

Boa sorte em suas experiências para expandir seu tempo, com qualidade, emoção, rituais e vida..

E S CR E VA em

tAmaNhos  diFeRenTes e  em  CorES

di f E rEn tEs !

CRIE, RECORTE, PINTE, RASGUE, MOLHE, DOBRE, PICOTE, INVENTE, REINVENTE.....
V I VA


 P.S.: recebi este texto por e-mail e fui atrás do autor. Em vários sites e blogues, o texto é de autoria de Airton Luiz Mendonça. Não encontrei nada do nome do autor no Jornal o Estado de São Paulo.