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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Onde está a música erudita contemporânea?

“O ritmo incita nosso corpo. A tonalidade e a melodia incitam nosso cérebro. A convergência do ritmo com a melodia lança uma ponte entre o cerebelo (o pequeno cérebro primitivo, responsável pelo controle motor) e o córtex cerebral (a parte mais desenvolvida e humana do nosso cérebro).
Beethoven
É assim que o “Bolero” de Ravel, “Koko”, de Charlie Parker, e “Honky Tonk Women”, dos Rolling Stones, nos inspiram e comovem, tanto metaforicamente quanto fisicamente, formando requintadas uniões de tempo e espaço melódico. É por isso que o rock, o heavy-metal e o hip-hop são os gêneros musicais mais populares do mundo, e isso há pelo menos vinte anos.
Mitch Miller, o principal caçador de talentos da Columbia Records, no início da década de 1960 fez uma declaração que ficaria famosa, segundo a qual o rock’n’roll era uma moda que passaria rapidamente (grifei). Hoje não há qualquer indicação de que ele esteja para perder a força.
A música clássica, tal como se afigura para a maioria de nós digamos, de 1575 a 1950, de Monteverdi a Bach e até Stravinsky, Rachmaninov e assim por diante —, já não é composta. Nos conservatórios de música, os compositores contemporâneos não estão criando esse tipo de música habitualmente, mas produzindo o que muitos costumam chamar de música artística do século XX (já agora do século XXI).
Assim é que temos Philip Glass, John Cage e outros compositores mais recentes e menos conhecidos, cuja música raramente é tocada por nossas orquestras sinfônicas. Quando Copland (Aaron) e Bernstein (Elmer) estavam em atividade, as orquestras tocavam suas obras e o público apreciava. Essa situação parece cada vez menos frequente nos últimos quarenta anos.
A música “clássica”* contemporânea é praticada sobretudo em universidades; quase não é ouvida por ninguém; desconstrói a harmonia, a melodia e o ritmo, tornando-os praticamente irreconhecíveis; é um exercício puramente intelectual, e, à parte uma ou outra companhia de balé de vanguarda, ninguém tampouco a dança.” (in “A música no seu cérebro”, de Daniel J. Levitin, p. 296/297)
Philip Glass
* - Música Clássica – música originalmente composta entre a segunda metade do século XVIII e o início do século XIX, considerada por historiadores como “Era Clássica”. Todavia, a expressão música “clássica”, é utilizada popularmente no sentido de música “erudita” (com erudição, mais rebuscada, trabalhada, complexa) a qual se contrapõe à música popular, menos complexa, sempre sob o ponto de vista de composição. E, como dizem por aí, gosto ou preferência não se discute.