Preciosidades

domingo, 30 de janeiro de 2011

24 Setembro 2010 - Um texto de Jéssica Parizotto


Três amigos bebem enquanto o mar se estende sobre a areia imóvel. O calor levanta um vapor salgado do chão do bar em que eles estão, mas isso não faz muita diferença por que eles seguram seus copos com as mãos salmorentas de um suor acumulado. 
 
A noite espalhada dá seus avisos, apedrejada de estrelas: amanhã o sol vai se derreter pelo chão da praia.
 
De repente um deles aponta ligeiro ao céu, se arrepende imediatamente, por que lembra o que a mãe falava na infância distante: apontar para estrela dá verruga e assoviar à noite chama coisa ruim. Mas já era tarde, os amigos seguiram o gesto e enxergaram também a estrela que se desprendia do céu com uma lenta pressa. Todos se lembraram da infância mais uma vez e fizeram silêncio por fora, mas dentro uma voz fazia um pedido.

- Quero ganhar na mega sena!
 
Todos se entreolharam e riram de si mesmos, sentindo-se os mesmos três meninos de anos atrás, jogando pedras no rio, pulando de uma pedra para o mar, e inventando mentiras maiores que as de hoje.

- Eu pedi pra ganhar na mega sena!
- E eu pra ficar rico... Dá na mesma.
- Bom, eu pedi pra comer a Rita, que é a única coisa que me importa agora...

E riram. Mas outra estrela escorria do céu e mais uma vez eles fizeram os pedidos.

- Que a pesca seja boa.
- Que a minha mulher não engravide mais!
- Que a Rita seja boa como dizem...
- Que a reforma do barco saia barato
- Que a minha mulher não engravide mais, mas continue quentinha como ela é...
- Que a Rita não faça doce...
- Que o mar volte a dar como há cinco anos dava.
- Que a minha mulher volte a dar como dava há cinco anos!
- Que a Rita dê como nunca...
- Que a conta de hoje não seja muito alta!
- Que a minha mulher ainda esteja acordada quando eu chegar...
- Que a Rita venha servir a gente de novo, que eu prefiro ela a essa outra galega sem graça!

E, quando a décima segunda estrela se soltou do céu naquela noite, o único pedido que eles tinham a fazer era:
 
- Rita, traz mais uma rodada! 
 

sábado, 29 de janeiro de 2011

Voyeur: noite (reeditado) - Otto M.

O vento soprou forte. Desta altura, a rua tinha agora um aspecto monástico. Ao invés de árvores atapetadas de orvalho: árvores de cimento prenhes de luz. Eram como São Franciscos, com seus halos, que se curvavam ao pé dela em deferência à procissão de silêncio que por ali passava. Não se sabia bem ao certo onde acabava o pavimento de paralelepípedos e onde começava a perna do cachorro pulguento que nadava pela calçada encoberta de neblina e fumaça. Tudo tão confuso e amalgamado quanto o próprio pensamento humano. E o homem desconhecido vislumbrava aquilo. Parecia-me mais um salgueiro desgalhado postado na soleira da casa abandonada, que não tinha outra função senão impedir a entrada de gatunos ou de quem quer que seja que a tanto intentasse.

Pedro deitou-se sob os alvos lençóis, apagou as luzes e, fugazmente se lembrou dos lampiões que ficavam acesos durante a noite quando era criança. Em seguida, lembrou-se do irmão, que dormia a seu lado, e que agora dormia na sala, num retrato da parede. Não pensou mais na volatilidade gloriosa da vida, não tinha aquele espanto ao relembrar o fato de que centenas de pessoas estariam, naquele mesmo segundo, morrendo dramaticamente, ou pior, se suicidando, se casando com amores explosivos, nascendo radiantes, cruzando avenidas, comprando flores ou comendo abacates com graciosidade ao redor do mundo. A alma, finalmente, voltou-se para dentro daquelas paredes, daquele corpo, daquela realidade que, mal sabia ele, era medíocre, e era sua, e era a de todos. Viu, então, a moça triste dos óculos de aros de tartaruga fechando o livro, emitindo um som surdo. E o cigarro de palha do homem desconhecido apagou.

---ooo----
Atibaia,
Primavera de 2007

Dica para ouvir durante a leitura:

Autorretrato. Gilmar Marcílio

            Até o início da idade adulta, minha vida foi um verdadeiro drama mexicano, com direito a enredo de ópera. Achava lindo sofrer. E ai do amigo que não partilhasse essa gula desmesurada pelo desespero. Eles guardam pilhas de cartas encharcadas de lágrimas. Não fui dark por um triz, se bem que por dentro tenha passado anos vestindo preto. Flertava mentalmente com o suicídio quase toda semana. Anunciava em público meu propósito de deixar esse mundo sombrio. O máximo que consegui foi assustá-los. Não ousei ir além da ingestão medrosa de três Lexotan depois de uma grande desilusão amorosa. Dormi o melhor sono da minha vida. Ainda sonho em recuperar aquele Éden provisório.
            Depois, não sei exatamente o que aconteceu. Comecei a achar muito trabalhoso sofrer. O tédio perdeu todo o charme. Olhava para a solidão com certa desconfiança. Ainda era meu brinquedo preferido, mas já via algumas rachaduras que me deixavam meio desconfiado. Montanhas de livros lidos, um prazer mórbido em cutucar a tristeza... e tudo se evaporou como uma bolha de sabão. Foi um grande amor que me salvou? Foram dois anos de terapia? Não sei e bocejo ante a possibilidade de vasculhar o passado. Continuei enamorado das grandes ideias, da arte que traça o itinerário de nossas emoções, do percurso silencioso que fazemos tentando nos traduzir. Mas felizmente me cansei bem cedo de ficar buscando um sentido para tudo. É mais saudável ir experimentando e ver se dá certo ou não. É só me convidar que estou pronto pra ir. Sou fácil, fácil demais. Aprendi a colher bobagens, tirei a sorte grande. 
             É muito chato fazer o papel de vítima, achando que um raio está sempre prestes a cair sobre a nossa cabeça. Detesto ser o porta-voz de alguma tragédia. Minha ou alheia. Tudo passa tão rapidamente que eu quero usar a vida até furar a sola, como um filósofo me ensinou. Pode ser com o reencontro de um velho pião de minha infância, um beijo úmido numa tarde de inverno, o gosto áspero de uma bergamota colhida no pé. Tanto faz. Desenvolvi uma espécie de radar intuitivo que faz com que eu me aproxime das pessoas que sabem digerir melhor as manhãs do que os crepúsculos. Amo os crepúsculos, mas sei que eles me enfraquecem com sua poesia de fragilidades. Hoje eu me engano de alma aberta. As coisas passam, mas têm permanência dentro do meu olho. Sou míope só diante de temporais imaginários.
             Tenho gratidões que me abismam. Alguém que me abraça ou empresta seu livro preferido de poesia. Alguém que me oferece uma xícara de café com leite ao lado de um fogão a lenha. É como respirar novamente as paredes da casa de minha avó. Alguém que me oferece uma carona no seu carro, no seu peito, na concha das suas mãos. É nesse mar de ternura que navego, sem precisar de outra bússola. Alguém que tenha a sensibilidade de chegar e partir na hora certa. Uma hora que nem eu mesmo sei qual é, mas que se ajusta às batidas do coração. Alguém que transborda, que não coloca tudo a juros de governo, imaginando algum tipo de garantia. A única garantia é o hálito de cada nova aurora.
               Num certo dia da idade adulta parti de mim mesmo. E nunca mais tive o desejo de me procurar novamente. Sei que posso gostar de Aristóteles e de Chapolin Colorado. Qual o problema? Choro com qualquer drama romântico, cheio de clichês. Não preciso parecer inteligente vinte e quatro horas por dia. Prefiro a leveza, a gargalhada, o aconchego. Faço certas combinações com palavras que talvez deixem algumas pessoas felizes. Não vivo a crédito, vou me gastando o mais que posso. Gosto da contradição, porque ela me torna mais vasto. Tenho dificuldade em desistir, seguro com a ponta dos dedos o único fio da corda que não se rompeu. Ainda não conheci a saciedade, sou curioso e tenho cada vez mais fome. Do meu retrato, ainda estou investigando a moldura. A fisionomia pertence aos outros. (Fonte: Gilmar Marcílio)

Uma benção para uma Bailarina. May Lopes


"Essa semana resolvi fazer aulas de ponta sozinha em casa.

É claro que não deu muito certo. É difícil vc querer o máximo de si se não tiver ninguém pra te cobrar. Sem ter ninguém pra mandar vc esticar os joelhos ou forçar a ponta de verdade.

Confesso que não me acho boa. 

Aliás, me acho a pior da minha turma de 3 meninas.
Mas o que difere o ruim do péssimo é justamente isso!
Não tenho uma grande flexibilidade, mas nada me impede de me alongar um pouco mais.
Não tenho um peito de pé lindo, mas nada me impede de forçá-lo cada vez mais nas aulas.
E depois de uma hora de aula "comigo mesma", acabei e olhei no espelho com o gosto de desejo cumprido.
A ponta não é mais minha inimiga, já me acostumei com a dor e ando com um eixo bom para me equilibrar.

E isso, pra uma bailarina de 19 anos e com só 06 meses de aula, é uma benção!

=) 

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Interditos Afetivos. Gilmar Marcílio


Prefácio do livro "Dois passos antes da esquina", de Marcos Fernando Kirst (2009) - p.4/6.
"A passos lentos, a vida vai se refazendo, sustentada pela memória. É quase sempre no passado que conseguimos respostas para as coisas que a razão não dá conta, por ignorar o momento em que tudo nasce. Atravessamos os dias cheios de certezas que nos afastam de um gesto mais espontâneo, desse dizer necessário que torna tudo real, carregado de significados.
Seguimos, quando seria necessário parar. Permanecemos imobilizados, quando uma palavra ou mesmo um rápido olhar serviriam para impedir esses interditos afetivos que rondam os nossos dias. Dois passos antes da esquina. Talvez seja neste lugar equivocado que acontecem as revelações mais contundentes, a descoberta de uma claridade que parece nunca antes ter nos habitado. E assim que o escritor Marcos Fernando Kirst nos apresenta seu romance: como uma discreta sinfonia de movimentos interiores, de ritmos que nascem dentro de um tempo preciso, de cores inusitadas.
Um velho conversa, no pequeno cemitério de uma vila, com a esposa morta há poucos dias. A partir desse fato insuportavelmente real toda a busca, todo o registro sentimental se faz através de reminiscências, mesmo quando a realidade tenta se impor. Como se uma crosta de dor impedisse a presença do novo, do que está por vir. Pouco importa o encontro com alguns passantes ou seres com os quais compôs meticulosamente a sua existência. Tudo serve de apoio para desenterrar um tempo que já não sustenta o humano e suas significações.
A páginas tantas, o encontro com um livro manuseado pela criatura amada torna-se o elo para reconstruir o que a presença não foi capaz de cristalizar. E aqui se pode evocar esse longo percurso que precisamos fazer para recuperar um detalhe, uma palavra ou mesmo uma ausência. Somos criaturas que desejam, mas que nem sempre suportam esse desejar. Reconstruir a vida através do pensamento ou da posse de objetos que pertenceram a alguém que já morreu passa a ser um recurso dolorido, mas necessário para manter a caminhada, mesmo que seja preciso parar, sempre, dois passos antes da esquina. Um lugar simbólico, uma espécie de Pasárgada, onde é possível resgatar a presença de tudo que se amou. Principalmente daquilo que foi amor sem ter recebido esse nome.
Otto, o velho militar aposentado que procura no túmulo da esposa o que não soube ver quando a tinha sob o olhar preguiçoso de quase sessenta anos de casamento, já não é mais um ser entregue à banalidade dos dias. Pois, de um modo particular, cada um de nós se espalha pela existência deixando essas frestas não preenchidas de afeto, esse postergar que desconsidera as oferendas modestas que compõem o amor e seus derivativos. Inventamos uma espécie de eternidade que nos desobriga de sermos felizes agora.
Este denso e instigante romance se apresenta como um adágio, a cena roubada de uma obra que não cabe em si. E assim o é porque nele está concentrado não só o inventário que um homem, já próximo do fim, faz de tudo o que passou ao lado da criatura amada. Em cada cena há a surpresa de uma descoberta que se mistura com o remorso, mas que também alivia, porque não pertence mais aos porões, a essas áreas de pouca luz, de pouco sentimento, de pouca verdade. Repisar o que já aconteceu, quando a morte mostra a cara, é um duelo quase físico, um confronto que aniquila organicamente, pela fragilidade desse nosso corpo que é também alma.
Marcos Fernando Kirst não permanece nas margens, não insinua o sofrimento do outro, não é uma testemunha ausente do que se passa com as personagens que cria. Com sua voz vigorosa vai desdobrando um amor que poderia ter sido e não foi. Mas que, por força de um amadurecimento póstumo, ganha lugar na passagem da existência, como se lhe brotasse um coração onde os batimentos cardíacos já não existem. Não se encontra aqui, no entanto, um exercício condenatório, o dedo em riste que aponta o que se deveria fazer, o que não se fez. As coisas são o que são, destituídas de um significado transcendente. A responsabilidade é nossa e carregaremos essa dor sempre na algibeira. Porque a lucidez é companheira infiel e acaso e destino se misturam na composição final de cada pequeno mundo.
Quase uma vertigem, uma busca pelas sombras, a presença do sangue no meio do caminho. Mas, afinal, o estranhamento se converte em paisagem familiar. Talvez, sem saber, ou mesmo sem querer, Otto tenha dado dois passos além da esquina. E encontrado, ao fim de poucos dias, o que chamamos de sentido, essa estranha palavra que parece justificar o peso que pagamos pela nossa humanidade.

Gilmar Marcílio (Filósofo, cronista e escritor, autor dos livros “Frutos Ardentes” e “O mundo é o que é”)"


terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Quem somos nós? Filme de 2004.

Nome original: "What the Bleep Do We Know!?" ou "What the #$*! Do We Know!?"( Literalmente "O que diabos nós sabemos?") — em cultura lusófona "Quem somos nós?", filme de 2004, combina documentário entrevista e uma narrativa ficcional para conectar a ciênciaespiritualidade, baseado nos ensinamentos de JZ Knight/Ramtha.[1]What the Bleep!?: Down the Rabbit Hole (O que bleep!?: Caindo no buraco do coelho) . à Houve, também, uma versão estendida em 2006,

Os tópicos discutidos em What the Bleep Do We Know!? incluem neurologia, Mecânica quântica, psicologia, epistemologia, ontologia, metafísica, pensamento mágico e espiritualidade. O filme apresenta entrevistas com especialistas em ciência e espiritualidade, intercaladas com a história de uma fotógrafa surda e como ela lida com sua situação. A animação digital é uma forte característica no filme. O filme tem recebido críticas de toda a comunidade científica. Físicos, em particular, reclamam que o filme distorce o significado de alguns princípios da mecânica quântica.[3]

Filmado em Portland (estado de Oregon, EUA), What the Bleep Do We Know, o filme mistura uma linha ficcional da história, em discussão no estilo de documentários, e Animação digital para apresentar um exame do universo e da vida humana dentro dele (essa análise segue conceitos religiosos dos idealizadores da obra), com conexões propostas pela Neurociência e a física quântica. Algumas ideias discutidas no filme são:
  • O universo é mais bem compreendido como construído pelo pensamento (ou ideias) mais do que de substância (veja em: idealismo);
  • O que tem sido considerado "espaço vazio" é tudo menos vazio (veja em energia do vácuo);
  • Nossas crenças sobre o que nós somos e o quem nós realmente somos é real, não a simples observação, mas nós mesmos formamos a nossa realidade (ver em: Solipsismo); 
  • Peptídeos produzidos no cérebro podem causar uma reação no corpo em resposta às emoções, resultando em novas perspectivas para os velhos adágios tais como "pensar positivamente" e "ser cuidadoso com o que você deseja."

Na parte ficcional, Amanda, uma fotógrafa surda (interpretada por Marlee Matlin) atua como o avatar (espécie de alter-ego) do espectador enquanto ela experimenta sua vida a partir de um novo começo e com diferentes perspectivas.

Na parte documental do filme, alguns especialistas científicos da fisica quântica, biologia, medicina, psiquiatriateologia discutem as raízes e significados das experiências de Amanda. Aos espectadores não é dito quais são as credenciais dos especialistas até o final do filme. Os comentários dos especialistas científicos, convergem para um simples tema: "Nós todos criamos a nossa realidade." Entre os autores que argumentam neste sentido, incluem-se Jane Roberts (o livro de Seth), Richard Bach (Fernão Capelo Gaivota e Ilusões), os escritos de Abraham-Hicks, e de Deepak Chopra, Dr. Wayne Dyer, e Dr. David R. Hawkins.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A língua em todas as disciplinas. Luís Carlos de Menezes

Luís Carlos de Menezes
Foto: Marcos Rosa

Por serem essenciais na formação escolar, a leitura e a escrita merecem atenção específica dos professores das diversas áreas.

Desde que nascemos, aprendemos a interpretar gestos, olhares, palavras e imagens. Esse processo é potencializado pela escola, por meio da leitura e da escrita, o que nos dá acesso a grande parte da cultura humana. Isso envolve todas as áreas, pois, mais do que reproduzir o som das palavras, trata-se de compreendê-las - e quem sabe relacionar termos como paráfrase, latifúndio, colonialismo e transgênico aos seus significados faz uso de um letramento obtido em aulas de Língua Portuguesa, Geografia, História e Ciências, respectivamente.

A chamada alfabetização científico-tecnológica mostra essa preocupação no ensino de Ciências. Falta muito, porém, para que as linguagens sejam objetivos da instrução e não só pré-requisitos exclusivos das aulas de Língua Portuguesa e Matemática, como apontamos nesta coluna (edição 215, de setembro de 2008). A competência de ler e escrever, aliás, se desenvolve com a de "leitura do mundo" no sentido usado por Paulo Freire - e todo educador deve fazer isso sozinho e em associação com seus colegas.

Cada estudante que, numa aula de Geografia, examina um mapa ou guia de ruas, assinala locais por onde passa e comenta em texto experiências ali vividas, além de aprender a se situar, faz um exercício expressivo e pessoal da escrita. Isso também pode ser um trabalho coletivo, como a maquete que vi numa cidadezinha mostrando a escola, o estádio, o hospital, a praça e a prefeitura. Estavam ali representados também o rio, com os pontos onde transborda e em que ocorre o despejo irregular de lixo. Cartazes ao lado comentavam o surgimento da cidade, a vida econômica e os problemas ambientais, com linguagem aprendida em aulas de Arte, Ciências, Geografia, História e Língua Portuguesa.

Mas essa prática só muda as estatísticas de alfabetização quando faz parte da rotina escolar. Há uma queixa frequente de que por lerem mal os alunos têm dificuldade com certos conteúdos. Diante dela, a escola deve trocar o círculo vicioso - em que o despreparo na língua dificulta a aprendizagem de outras matérias e perpetua o despreparo - por um círculo virtuoso - em que a leitura e a escrita melhorem em todas as áreas e ajudem na aprendizagem de qualquer conteúdo. De certa forma, todos os professores devem dar continuidade ao processo de alfabetização, em que os pequenos leem e escrevem sobre suas relações pessoais ou sociais e sobre as coisas da natureza, entre outros temas.

Para cumprir esse objetivo, é igualmente importante lançar mão de vários meios e atender aos interesses de crianças e jovens, muitas vezes relacionados às novas tecnologias. Buscas pelo conteúdo de enciclopédias ou por letras de música podem ser feitas pela internet. Nada impede que, além de escreverem agendas e diários e publicarem notas nos murais da escola, eles enviem torpedos por celular, conversem em chats ou enviem mensagens por e-mail. Se houver equipamentos suficientes, os alunos podem registrar e editar seus textos em computadores. Se não, pode-se realizar atividades em grupo na própria escola ou em equipamentos públicos. A crescente importância desses meios é mais um estímulo para o domínio da escrita, até porque os CDs, DVDs e pendrives logo farão - se já não fazem - parte da vida escolar tanto quanto livros e cadernos.

Com esses e outros meios, aprende-se a ler e escrever todo o tempo e em qualquer disciplina, e é ainda melhor quando a coordenação pedagógica orientar a equipe nesse sentido. O ideal é que todos sejam preparados para ações conjuntas, mas já faz uma enorme diferença se, antes de cada aula, os docentes souberem quais linguagens desenvolverão com os alunos e como vão estimulá-los a ler os textos e a escrever o que aprenderam, as dúvidas que restaram e seus pontos de vista sobre aspectos polêmicos.