Preciosidades

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Inconsciente do Texto. Philippe Willemart e Miriam Chinalli

A respeito da teoria do “Inconsciente do Texto”, para quem nunca ouviu falar ou não lembra mais, vale mencionar aqui uma passagem do livro “Littérature 52” (de Willemart, Paris, Larousse, 1983), segundo o qual o conceito de “inconsciente do texto” é entendido como trabalho do inconsciente, numa visão lacaniana: 


"Em primeiro lugar, o autor não é uma mônada isolada que pudesse reivindicar o que ele produz como sendo algo exclusivamente seu; como qualquer homem, ele é a culminação de uma série de desejos de sucessivas gerações, o fruto de um momento cultural preciso. Em segundo lugar, ele utiliza uma língua carregada de sentidos que o domina e controla mais do que ele pensa. E, por fim, essa mesma língua, uma vez colocada no papel e através da narrativa, força arranjos e desloca elementos tanto no nível do sintagma quanto do paradigma" (p. 19).

E, mais à frente, no mesmo citado livro, Willemart ainda esclarece: “A literatura ou qualquer outra forma de arte define um contexto ou um Simbólico no qual o artista entra e é moldado. O material escolhido - a pedra, a linguagem, os sons, as cores - também cumpre uma função e trabalha o escultor, o escritor, o músico ou o pintor. Dessa forma, a escritura fornece ao leitor não apenas as fantasias do escritor, mas muito mais as de seus contemporâneos e o Simbólico em que todos estão imersos”.

Portanto, até no mais simples e inofensivo livro, o texto passa por um complexo e discutível processo de criação, que jamais deveria ser ignorado ou menosprezado.


(fonte: resenha do livro: “Educação sentimental em Proust”, de Philippe Willemart, Ateliê Editorial Cotia, 2002. Leia na íntegra a resenha intitulada “O não sabido e o sabido em psicanálise e literatura”, por Miriam Chinalli). 

segunda-feira, 28 de junho de 2010

"Sobre livros e livrarias". FÓSFORO

"As bibliotecas sempre tiveram, pra muita gente, um ar meio mágico, meio religioso, onde se conversa aos sussurros, como numa igreja, e onde adoramos os livros, objetos sagrados (mesmo quando são profanos). Menos rígidas, mais coloridas, ruidosas e dessacralizadas pelo comércio inerente, as livrarias também têm seus fãs. Há quem quase chore de emoção ao ver  um sítio como o  Most Interesting Bookstores of the World, de onde tirei a foto aí de cima, da célebre Shakespeare & Co., de Paris.

E é fascinante, para amantes de livros e livrarias, conhecer o Pequeno Guia Histórico das Livrarias Brasileiras, escrito por Ubiratan Machado (Ateliê Editorial, 264 páginas). Historiador dedicado, vai às origens das primeiras livrarias, no século XVIII. Você sabia que na velha Vila Rica, em 1750, havia uma Loja de Livros? Claro, é fácil imaginar os poetas da Inconfidência encontrando-se no local e trocando impressões sobre os últimos lançamentos. Fácil, mas enganoso. Na verdade, era muito maior o número de cidades e vilas onde não havia uma livraria, tal como conhecemos. Aliás, passe essa última afirmação para o tempo presente e continuará sendo verdadeira…

Ubiratan Machado pesquisou a história de 100 livrarias, dos tempos coloniais até o final do século XX, que tiveram importância cultural, social e, muitas vezes, política. Livraria é habitat natural de defensores da liberdade de pensamento, o que costuma contrariar certos governos.

As primeiras livrarias, ainda precárias, também comercializavam livros usados, o que atrai outra seita: a de admiradores de sebos. Incluo-me neste grupo, mas cometo freqüentes infidelidades. Uma boa livraria é apaixonante. Uma biblioteca bem organizada dá vontade de morar dentro. E há lugares que reúnem vários encantos, como o sebo-livraria-editora Alpharrabio, de Santo André. Ou os sebos-museus que se ocultam alguns andares acima da rua Barão de Itapetininga, em São Paulo, onde livros convivem com gravuras e objetos de arte. Lembrança puxa lembrança, e lembrei agora de um anúncio simples e genial que vi outro dia na Internet."
Nem preciso dizer que o anunciante é uma rede de livrarias. Não uma qualquer, mas a Steimatzky, cuja história dá um filme. Ou um bom livro."

Fonte: acesse o blog FÓSFORO .

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Site "Leia Livro" do Governo do Estado de São Paulo. (Retirado do ar???!!!) Saudades!

(Clique na figura para ampliação e mate as saudades)

"O projeto Leia Livro surgiu como um site para aproximar pessoas que gostam de ler e falar de livros. É uma iniciativa pequena que, ao longo de 2004 e 2005, se desdobrou por meio de parcerias com escolas, editoras e estações de rádio. A sinergia gerada ao redor do site permite que todas as partes se beneficiem: os participantes trocam dicas de leitura e ganham livros novos, as emissoras recebem conteúdo original e exclusivo, as editoras divulgam seus catálogos, o site se torna mais popular e as escolas usam o site para tornar a leitura um hábito com finalidade social, abrindo a possibilidade para as crianças verem seus textos lidos ?de verdade? e divulgados. O site é uma comunidade virtual, um espaço de interação mediado por um software social, para pessoas compartilharem informações sobre um assunto do interesse comum. O projeto não depende de jornalistas pagos porque o conteúdo editorial resulta do relacionamento entre os internautas. Estabelecer vínculos colaborativos é fundamental para o sucesso do projeto. Nesse sentido, a qualidade e diversidade do conteúdo gerado pelo site possibilitaram a realização de uma parceria com as rádios Cultura AM e FM de São Paulo, emissoras cuja programação está afinada com os objetivos do projeto Leia Livro. A visibilidade proporcionada pelos boletins de rádio tornou interessante para editoras apoiarem o projeto. Algumas das principais empresas do setor editorial do país - entre elas Record, Companhia das Letras, A Girafa, Conrad, Devir e Ática - aceitaram doar entre dez e vinte livros cada uma, entre seus lançamentos, para premiar os autores das melhores sugestões de leitura. Assim, a comunidade ajuda o site que ajuda o rádio que ajuda as editoras que ajudam a comunidade. As parcerias começaram com sete editoras e atualmente são vinte e quatro, sendo que houve uma mudança de atitude dessas empresas em relação ao projeto. As primeiras editoras tiveram que ser convencidas a participar, e agora, com a consistência dos resultados obtidos, novas editoras se ofereceram para doar livros para o projeto. Posteriormente, em meados de 2005, o projeto fechou parceria com a revista bimestral Discutindo Literatura, que publica uma resenha no site por edição, dando ainda mais visibilidade ao projeto. Entre as escolas, o Leia Livro conta com uma parceria com o Colégio Oswald de Andrade Caravelas, instituição tradicionalmente receptiva a projetos alternativos e inovadores. Os professores foram estimulados a propor às classes a publicação de dicas de leitura e a experiência resultou no envio de dezenas de colaborações de estudantes de sete a dez anos. O Leia Livro maximiza resultados a partir da aplicação eficiente de recursos e de parcerias, gerando benefícios para o Governo, para os parceiros e para a sociedade civil. A receptividade do Leia Livro entre o público participante, os parceiros e a visibilidade que a iniciativa vem recebendo dentro da imprensa indicam o potencial de replicação do projeto Leia Livro. É um sinal da força da ação que além de atingir a comunidade de ouvintes, limitada à área metropolitana da cidade, o Leia Livro reúna pessoas de outros estados e falantes da língua portuguesa de outros países. Do ponto de vista tecnológico, é uma iniciativa fácil de se replicar, dependendo de um software de R$ 1.500,00, hospedagem e dois computadores para fazer a atualização do conteúdo na página. O principal aprendizado do projeto continua sendo a descoberta do potencial das ações coordenadas entre iniciativa privada, governo e sociedade civil. A equipe também está descobrindo e provando pela prática que a internet e as tecnologias de informação podem representar alternativas para a democratização do conhecimento, favorecendo a formação de vínculos comunitários e, dessa forma, contribuir para a construção da cidadania. Neste momento da história em que os meios de comunicação diminuem a importância da difusão da cultura, o Leia Livro demonstrou que a leitura, além de ser uma forma de desenvolvimento pessoal, pode aproximar as pessoas e representar uma alternativa saudável de entretenimento"(Fonte)

Lamentavelmente, por problemas "político-orçamentários" o site foi retirado do ar.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Mário Quintana em dois momentos

DO AMOROSO ESQUECIMENTO

Eu agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

Mario Quintana - Espelho Mágico



(Sem título)

Com X se escreve xícara
Com X se escreve xixi
Não vás fazer xixi na xícara
Que irão pensar de ti?  

(poema feito de improviso, em reportagem para a RBS TV, poucos meses antes da sua morte. Poema não publicado em livro. O poeta, como é conhecido pelos gaúchos, faleceu em 05 de maio de 1994.)

 

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Rua Ramalhete. Tavito

Composição: Tavito e Ney Azambuja
 
Sem querer fui me lembrar
De uma rua e seus ramalhetes,
O amor anotado em bilhetes,
Daquelas tardes.

No muro do Sacré-Coeur,
De uniforme e olhar de rapina,
Nossos bailes no clube da esquina,
Quanta saudade!

Muito prazer, vamos dançar
Que eu vou falar no seu ouvido
Coisas que vão fazer você tremer dentro do vestido,
Vamos deixar tudo rodar;
E o som dos Beatles na vitrola.

Será que algum dia eles vêm aí
Cantar as canções que a gente quer ouvir?


terça-feira, 22 de junho de 2010

Uma palavrinha. Jéssica Parizotto

 
Os meiopalavroenses
não precisam mais falar.
São adivinhados
em movimento mandibular




"Jéssica Parizotto é formada em Letras. Paranaense, nasceu no dia 16 de julho de 1988. Paulo Leminski é seu favorito. Questionada sobre quem é: uma proparoxítona." (do livro "Coisas que poderiam ou deveriam ter sido ditas", SESC, Coleção Caderno de Autoria, São Miguel do Oeste, SC, 2009. Página 43)


domingo, 20 de junho de 2010

Como se tudo fosse uma série, algumas reticências.

São Miguel do Oeste tem uma característica singular: é longe, muito longe. Não longe do mundo, ou de tudo, ou de quase nada, mas longe naquilo que a própria palavra tem como reticência. Como espaço a ser ocupado, lugar pronto para cumprir um sentido afetivo de ocupa-se. Lugar branco, sem associação de escritores ou de artistas (esta maledicência), o que é ótimo, bem perto da fronteira com o estranho, muito perto de suas ruas com relevo e de uma gente que na falta de outro movimento fica na rua, habita a rua, se espalha na rua. Morar a rua aparece como uma opção à vida pequena, miúda, da cidade com pouca gente e que faz frio, muito frio.

Assim, o princípio de um programa de formação de escritores numa cidade como São Miguel do Oeste acessa um vão aberto que pode ser esticado até onde o limite do risco e do esforço se faz possível. Não há nada antes, tudo pode vir depois. E isto é a melhor coisa pra um trabalho como esse. Porque todo o projeto é novo, bom, ventilado, tudo fica mais generoso e denso, as coisas podem ser ditas, as coisas podem ser ouvidas. Toda a ideia é abrir a palavra até onde ela é rasgo e tensão dentro da página.

Este pequeno livro é uma mostra dessa reticência, dessa ventilação, desse outro possível que ninguém sabe ninguém viu. Mas até agora. Este livro é para dar a ver este sumiço, este fantasma, esta série plena de coisas que poderiam ou deveriam ter sido ditas antes, muito antes. Mas como não foram, é agora que elas aparecem e se confirmam: o tempo de cada coisa aqui é agora, nesta série, neste ir e vir de cada movimento. Caríssimo leitor: siga o mapa, se perca por aí; garanto a você: vale o escrito. 

Manoel Ricardo de Lima - Outono, 2009.

A Coleção Caderno de Autoria reúne experiências de escrita elaboradas nos cursos de formação de escritores do SESC Santa Catarina. Esta coleção surge em consonância com o cenário cultural brasileiro e com as diretrizes do Departamento Nacional do SESC enquanto estímulo à produção, difusão dos bens culturais e incentivo a novos artistas.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Leia Livros!

Bossa. Cidadão Quem e Monica Tomasi

Composição: Duca Leindecker
  
Atenção
As pessoas não precisam
Ser iguais às outras
Aceite ou não
Mas você é única
No mundo assim
Uns são mais
Coordenados, determinados
Obcecados
E outros atrás
Vão levando a vida
E quem ousa dizer
Que é pior?
Há quem construa aviões
Escreva as revistas
E outros dedilham violões
Eu digo
Hei!
Você que sabe tudo
Me diga como perguntar
Se eu não sei
Você que pensa em tudo
Me mostre o quanto pode amar
Atenção
As pessoas não precisam
Ser iguais às outras
Aceite ou não...

Ao Fim De Tudo. Cidadão Quem


Composição: Duca Leindecker
 
Minhas lágrimas não caem mais,
Eu já me transformei em pó
E os meus gritos não se escutam mais
Estão na direção do Sol
Meu futuro não me assusta ou faz
Correr pra desprender o nó
Que me amarra a garganta e traz
O vazio de viver só...
Se alguém encontrou um sentido para a vida, chorou
Por aumentar a perda que se tem ao fim de tudo transformando o silencio que até então é mudo
Naquela canção,
que parece encontrar a razão
Mas que ao final se cala frente ao tempo que não para frente a nossa lucidez.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Onde estão os negros da Argentina?

"Nesta viagem me espantei um pouco pela ausência de negros em Buenos Aires. Foi minha segunda viagem à Argentina (e olha que viajei de carro) e posso afirmar que não esbarrei com nenhum negro argentino. Encontrei apenas dois negros, mas eram turistas, um em Mendoza e outro em Buenos Aires.

Pesquisando na internet, encontrei em um "blog amigo," (http://afoxe.blogspot.com), uma análise bastante interessante sobre esse tema e o reproduzo aqui:

"Na Argentina não tem negros porque foram todos mortos há pouco mais de um século. Jorge Lanata é um dos mais importantes jornalistas argentinos, fundador do diário “Página/12” e autor de Argentinos (em espanhol, Editora Argentina), uma belíssima história de seu país em dois volumes, lançada em 2002. Nos livros, ele batiza os negros de los primeiros desaparecidos, referência aos mortos pela ditadura militar recente. E traz números: no censo de 1778, 30% da população tinha origem africana. A proporção se mantém no censo de 1810, cai para 25% em 1838. Em 1887, repentinamente, compõe menos de 2%. Mas no início, bem no início, há depoimentos de que a proporção de negros e brancos em Buenos Aires chegou a ser de 5 para 1.

Durante seu primeiro século de vida, a capital argentina sobreviveu às custas do comércio negreiro. No século 16 até a primeira metade do 17, a coroa espanhola drenava o ouro e a prata do Potosí, na atual Bolívia. Foi este o negócio que batizou o Rio da Prata – e foram principalmente mãos negras que tiraram das minas subterrâneas os metais que sustentaram a Europa. Os escravos que trabalharam no Potosí vinham principalmente de Angola. Eram negociados pelos peruleiros, que faziam a rota Potosí-Buenos Aires-Rio-Luanda. O Rio de Janeiro também sobreviveu economicamente por conta do tráfico, numa época em que o açúcar do Nordeste era de qualidade muito maior. No Rio chegavam os escravos, pagos em boa parte não com dinheiro mas com açúcar, cachaça, mandioca e tabaco, que serviam de moeda de troca na África. Os escravos eram transportados então para Buenos Aires, onde entravam ilegalmente, e enviados Prata acima até as minas. Era um jogo onde todos, inclusive os governadores, eram contrabandistas. A relação na rota de tráfico entre Rio e Buenos Aires era tão íntima que, quando veio a separação da União Ibérica, os cariocas chegaram a sugerir aos hermanos que se bandeassem para o lado português.

Como no Brasil, todo o serviço, doméstico ou não, nos séculos 17 e 18 foi feito por mão-de-obra negra e escrava na Argentina. Então desapareceram e a história local ensinada nas escolas se cala sobre o assunto. Francisco Morrone, autor de Los negros en el ejército: declinación demográfica e disolución, é um dos historiadores que tenta recuperar o que houve. Segundo Morrone, uma das coisas que aconteceu foram casamentos mistos que, lentamente, clarearam a pele de filhos e netos. É o tipo da resposta que explica quase nada. Mas aí ele mete o dedo na ferida.

A abolição da escravatura na Argentina começou em 1813, foi confirmada pela Constituição de 1853 – bem antes à brasileira. Durante o século 19 todo, o país se meteu numa guerra após a outra. Contra invasões por parte de Inglaterra e França, então a Guerra da Independência seguida do banho de sangue da luta interna entre caudilhos pelo poder e culminando com a Guerra do Paraguai, na qual seguimos aliados. Por todo este período belicista, a Argentina pôs seus negros na linha de frente dos exércitos, os primeiros a levar tiros, às vezes de espingardas – muitas vezes servindo de isca para que o inimigo gastasse as balas de canhão.O golpe final foi a grande epidemia de Febre Amarela em 1871, que se abateu sobre os bairros de Buenos Aires para onde os negros que sobraram foram transferidos. Depois, nos primeiros anos do século 20, assim como no Brasil, houve uma enorme migração européia, principalmente de italianos, que marcaram o sotaque portenho como marcaram cá o paulistano. A diferença é que, a essas alturas, os poucos mulatos não tiveram melanina suficiente para escurecer a pele da população restante.

A Argentina teve, sim, escravos, exatamente como o Brasil e na mesma proporção. Nos momentos seguintes à sua independência, aboliu a escravidão para pôr em marcha uma política de branqueamento da população. No caso, isso quer dizer genocídio. Diga-se de passagem, nos primeiros anos da República isto foi motivo de inveja por parte do governo brasileiro. Não há inocentes."

Mais informações sobre o tema:

www.pagina12.com.ar/2001/suple/No/01-07/01-07-05/NOTA1.HTM

www.cwo.com/~lucumi/argentina.html

news.bbc.co.uk/hi/spanish/misc/newsid_2285000/2285932.stm "

Fonte:

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Espelho. José J. Veiga


Quando uma casa desmorona por velhice mais abandono, parece que alguma coisa da essência das pessoas que viveram nela e foram felizes — pelo menos por algum tempo ou alternadamente, já que ninguém é feliz sempre — fica pairando sobre os escombros e sobre utensílios abandonados ou esquecidos pela última família que morou nela; tanto que o poeta Pessoa escreveu num poema: "O que eu sou hoje é terem vendido a casa \ e terem morrido todos \ Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez...”. Aquela casa deve ter sido vendida várias vezes, depois envelheceu e por fim caiu.

O entulho ficou lá enfeando a rua e servindo de abrigo a mendigos e outros desses que têm a mania de pensar que são rebeldes, contestadores, não querem trato com o que chamam de sistema, mas não levam esse pensamento às últimas conseqüências: não abrem mão de um bom churrasco de gato nem do ato mais visceral de descarregar seus detritos quando se sentem pesados por dentro. Em todo caso, uma vez aliviados lembram-se de que fizeram uma concessão aos costumes e pensam que se redimem deixando de se limpar. Cada qual com a sua filosofia, como disse o general de granadeiros Contumácio Coribantes, vencedor da Batalha de Filigranas, que, como se sabe, mudou o rumo da história dos países do lado de baixo do Equador.

Então o entulho do desabamento ficou lá poluindo a rua e atraindo moscas, lagartixas, ratos, baratas e outros entes obnóxios, até que saqueadores tomaram conhecimento e começaram seu trabalho sistemático de extrair e carregar tudo em que vissem algum valor. Durante dias, talvez semanas, caminhões, kombis e até burros-sem-rabo, que ainda existem para quem sabe onde achá-los, transportaram ladrilhos, azulejos, grades, pias, torneiras, painéis de vidraças milagrosamente inteiros, portas, portais, caixilhos e esquadrias de janelas, fechaduras antigas ainda perfeitas, algumas sem as chaves; dois ou três armários enormes de madeira maciça para guardar louça ou roupa de cama e mesa e que os últimos moradores não quiseram carregar, certamente devido ao tamanho e ao peso. Esses foram desmontados a duras penas e transportados em um caminhão novo com placa de Vassouras, RJ, que alguém anotou por curiosidade.

Havia também um guarda-roupa, esse não tão antigo nem de boa madeira, tanto que não resistiu ao esborôo da casa, ficou todo quebrado e desconjuntado e não interessou a nenhum dos primeiros predadores. Mas quando chegou o segundo escalão, o chamado pente-fino, formado pelos que se contentam com sobras e rebotalhos, alguém deu uma olhada no guarda-roupa arrebentado, talvez esperando ou desejando que em alguma das muitas gavetas, quem sabe, tivesse ficado algum objeto de valor, ou mesmo dinheiro, é impressionante que existe de gente distraída no mundo, e muitas vezes o prejuízo de um distraído acaba sendo o lucro de um porfioso.

Dada a vista nas gavetas, quase todas ocadas por cupins, e nada encontrando, a pessoa notou que uma porta estava inteira e sã e poderia ser aproveitada, há sempre colocação para uma boa peça de madeira já curtida pelo tempo e vacinada contra cupins, podia servir para tampo de mesa, para um banco, para prateleiras de estante, era só esperar o encontro dela com quem a estivesse procurando, se esses encontros nunca acontecessem não haveria necessidade de belchiores, que sempre existiram e sempre existirão.

Depois de muito esforço, solavancos e engenho porque o puxador, também de madeira, estava quebrado e não dava pega, o pente-fino conseguiu abrir a porta — e teve nova surpresa. Do lado de dentro havia um espelho biselado de metro e meio de altura por sessenta e cinco centímetros de largura em perfeitíssimo estado, só que por cima da grossa camada de poeira podia se escrever nele com um dedo uma frase completa, como "Todo governo é delinqüente".

Razoável conhecedor de coisas antigas, o vasculhador de ruínas imaginou ou percebeu que o espelho tinha sido reaproveitado naquele armário: a moldura era diferente da madeira da porta, indicando que o espelho devia ter estado numa parede, talvez num salão, acima de um bufê ou de um sofá; ou num quarto de vestir, ou em uma loja de roupa ou calçado. E era importado, provavelmente da França, cujos artesãos inventaram esse tipo de corte chanfrado para evitar arestas nas margens de placas de vidro ou de madeira.

Mas — e o aço? Estaria ainda bom depois de tanta vivência e de tantos sacolejos?

Como saber, com tanta poeira encrostada em cima? Olhou em volta, viu umas folhas de jornal jogadas nas ruínas pelo vento. Pegou duas folhas, fez uma pelota, experimentou. A seco não adiantava, apenas espalhava a poeira. Só molhando o papel, mas onde achar água? O homem tinha expediente, não ia empacar por tão pouco. Procurou um lugar protegido da vista de quem passava na rua e urinou na pelota de jornal. Com o papel molhado limpou duas pequenas áreas do espelho e por elas deduziu que o aço devia estar bom de ponta a ponta.

Satisfeito com o achado, nosso homem tornou a fechar a porta do armário, esperando encontrá-lo intato quando voltasse com uma kombi de aluguel para levar o espelho; se ninguém o vira antes, certamente ninguém ia vê-lo naquele dia. Mas antes era preciso agradecer ao santo fumando um bom charuto ali mesmo, com calma; para que pressa, se o dia estava ganho? Depois de limpado e exposto no belchior, o espelho não demoraria a encontrar comprador.

Não errou na previsão. Logo no primeiro dia um decorador se interessou, indagou o preço. Achou caro, fez uma contraproposta. Experiente, o belchior não quis vender ao primeiro interessado, mas anotou nome e telefone. Horas depois entrou um casal jovem procurando uma mesa de jantar extensível. Não gostaram das únicas duas que havia, ambas precisando de conserto, o que encareceria o preço final. Quando saíam, viram o espelho. Ouviram o preço, confabularam em voz baixa, compraram sem regatear.

Depois de muito debate e experimentação concluíram juntos que o espelho ficaria bem na sala de visitas, instalado horizontalmente atrás do sofá de três lugares. Oposto a ele, separando a sala de visitas da de jantar, ficava uma marquesa de jacarandá trabalhado, também comprada em belchior e restaurada por empalhador recomendado pelo próprio vendedor De cada lado do sofá havia uma poltrona Luís XV estofada de veludo caramelo pelo artista Mário Cotas, mas para isso tiveram de esperar seis meses, a lista de encomendas das dele era enorme. Valeu a espera. A sala ficou coisa de revista, diziam os amigos.

E o casal ficou feliz com a sala. Quando saíam para algum compromisso social sentiam-se como exilados, e arranjavam pretextos para se retirarem mais cedo e voltarem depressa para a sala acolhedora. Logo perceberam que a alma do ambiente era o espelho, tudo mais eram acessórios que sozinhos não encheriam os olhos de ninguém. Sem o espelho ficaria uma sala plebéia, com móveis de sentar, tapetes, alguns quadros indiferentes, requififes vários — igual a um sem-número de outras.

Por causa do espelho, e parece que sem perceber, o casal ficou passando a maior parte do tempo na sala, e às vezes até dormiam nela, um no sofá, outro na marquesa. Por que faziam isso? Se perguntados, possivelmente não saberiam o que responder. Sentiam-se felizes na sala, seria a resposta singela. Mas não precisavam dar essa explicação a ninguém, primeiro porque eram sozinhos e a senhora que cuidava da casa e da cozinha dormia fora; segundo, porque achavam aquilo natural, e o que é natural carece de explicação. Quanto mais olhavam para o espelho e viam a sala e eles mesmos refletidos no vidro impecável mas quase etéreo, mais gostavam dele; e já estavam achando que o encontro deles com o espelho, ou o contrário — o que talvez não fosse a mesma coisa, pensando bem — podia ser alguma arrumação do destino; e se consideravam escolhidos. Imagine se o espelho tivesse ido para um novo-rico qualquer, um capadócio, um bicheiro, um fala-gritado?

Mas, como disse um cantador, a felicidade é um trono de nuvem, quem se senta nele deve estar prevenido porque se desmancha à-toa, basta um ventinho, uma palavra impensada.

Foi o que aconteceu, ao que parece, porque quando voltaram o filme e o repassaram para ver se entendiam, ficaram achando que a mudança começara numa tarde esplêndida de domingo, o sol iluminando a varanda da frente, crianças brincando, gritando e rindo embaixo na praça, o casal na sala gozando a companhia do espelho. De repente a mulher, serena, alegre, reflexiva, deitada na marquesa, olhando pela porta da varanda e torcendo um chumaço de cabelo com o polegar e o indicador da mão direita, disse em voz calma, mais como se fosse um pensamento que tivesse lhe escapado pela boca:

— Não acha que estamos parecendo dois bobocas atrelados a este espelho?

O homem, sempre atencioso, deitado no sofá, os pés descalços sobre uma almofada, os joelhos dobrados, lendo o segundo volume do Corpo de Baile de Guimarães Rosa, pousou-o aberto sobre o peito e olhou intrigado para a mulher.

— Como é mesmo, filha?

— Eu disse alguma coisa? — indagou a mulher, olhando-o intrigada.

— Disse que estamos parecendo dois bobocas atrelados a este espelho. Aliás, não disse; perguntou se eu não achava.

— Foi, é? Ora essa! — Voltou a torcer a mecha de cabelo por um instante, calada. — Bem, se eu disse, então é porque estava pensando.

Ele pegou novamente o livro, mudou de idéia antes de localizar o ponto onde havia parado. Pousou-o de novo no peito. A observação da mulher ficou interessando mais.

— Esse pensamento é novo ou já lhe ocorreu antes? — perguntou.

Como não tinham segredos um para o outro, ela admitiu que dias antes no trabalho, ao ouvir uma colega falar do fim de. de semana altamente relaxante que passara com o marido e amigos em um hotel-fazenda no Vale do Paraíba, fizera uma comparação e ficara em dúvida se eles dois estariam certos fechando-se tanto em casa e em si mesmos por causa do espelho, como se o mundo lá fora não existisse; e se indagara se isso não acabaria prejudicando-os de alguma maneira.

— Bem, já que o assunto pulou a cerca, é porque chegou a hora. Então não vamos continuar fazendo de conta que ele não existe. Eu também tenho me preocupado com o espelho de uns dias para cá.

— É mesmo? Como assim? — disse ela, ao mesmo tempo em que passava da posição de semideitada para a de semi-sentada.

Um dia, quando você estava na cozinha fazendo café e eu aqui conversando com Emer e Zenaide, os dois sentados no sofá, olhei para eles para dizer qualquer coisa, tive uma sensação esquisita. Emer me perguntara sobre meninos de rua, a matança da Candelária. Quando dei minha opinião, aconteceu. Os que estavam no sofá eram Emer e Zenaide. Os que eu via no espelho, só do ombro para cima, eram outros. Esses aprovavam a matança. Não diziam isso em palavras, as palavras deles eram as de Emer e Zenaide, diziam que tinha sido um horror, uma vergonha, uma desumanidade; mas tudo soava falso. A opinião verdadeira estava nas imagens refletidas. Fiquei horrorizado. Disfarcei, levantei, fui à varanda pretextando ter ouvido qualquer coisa lá fora. Felizmente você apareceu logo com o café.

— Me lembro que quando entrei com a bandeja você vinha da varanda. Só isso.

— Então eles também não devem ter notado. Ainda bem. Mas fiquei transtornado. Naquele instante o espelho mostrou-me a verdadeira alma deles.

Ela olhou demoradamente para o espelho e disse: — Gostaria muito de pensar... pensar não, ter certeza ... que você tivesse imaginado isso.

— Eu também. Mas não dá para fraudar Foi real.

Não falaram mais no assunto, mas pensaram muito, cada um por si. De tardinha fizeram um lanche na sala de jantar, esforçando-se os dois para não falarem no espelho nem olharem para ele. Depois ligaram a televisão, nada de interessante. Que tal um cinema à noite? Consultaram o jornal, optaram por uma comédia inglesa, "O Garçom Venturoso", de Peter Ustinov. Os ingleses são bons em comédia, e Ustinov melhor ainda, lembra-se de "Vice-Versa"?

O filme é a história de um garçom de Charlotte Street que encontra a seu lado num banco do metrô uma bolsinha minúscula. Guarda-a no bolso para ver depois se contém algum valor. Quando a abre em casa, vê que tem um diamante do tamanho de ovo de codorna, com nota de venda de uma loja de Amsterdã. O preço, uma fortuna. O filme todo é o desespero do garçom para encontrar um lugar seguro onde esconder o diamante até poder dispor dele sem risco. Não tem experiência em atividades clandestinas e não pode consultar ninguém para não levantar suspeita. Não pode dividir o problema com a mulher porque ela tem coceira na língua. Todo esconderijo que imagina logo lhe parece escancarado. Levanta-se no meio da noite para mudar o diamante de lugar. Pensa engoli-lo para recuperá-lo no dia seguinte, e assim ir fazendo dia após dia, mas na primeira se tentativa quase morre engasgado, o raio do diamante bem podia ser um pouco menor.

O homem vive sonolento, cochila no trabalho, o chefe o adverte. Finalmente o pobre garçom conclui que não existe em toda Londres um lugar seguro para quem não tem diamantes esconder um diamante do tamaninho de um ovo de codorna. E resolve entregá-lo à polícia.

Em vez de distraí-los, o filme agravou as preocupações inconfessáveis do casal. Na mesma noite retiraram o espelho da parede, o que não foi difícil: bastou retirar com torques as três escápulas do alto, içar o espelho das três escápulas que o sustentavam embaixo, depois virá-lo de frente para a parede e pousá-lo no chão atrás do sofá.

No dia seguinte telefonaram para o belchior e fecharam negócio pela primeira proposta, como tinham feito quando da compra. Mas continuaram usando espelhos, ele para fazer a barba, ela para se pintar e pentear.

José J.
VeigaJosé Jacintho Pereira Veiga (1915-1999) era goiano de Corumbá de Goiás, uma pequena vila a 150 quilômetros de Goiânia, e dizia dever a escolha de seu nome literário à ajuda de Guimarães Rosa que, com argumentos numerológicos e estilísticos, sugeriu José J. Veiga, na altura da publicação do livro de estréia "Os Cavalinhos de Platiplanto", em 1959. Seu romance "A Hora dos Ruminantes" foi publicado em 1966. Livros do autor: "Sombras de Reis Barbudos", "A Estranha Máquina Extraviada", "Objetos Turbulentos", "De Jogos e Festas", "A Usina Atrás do Morro", "Aquele Mundo de Vasabarros" e "Os Pecados da Tribo", "Torvelinho dia e noite", "Diálogos de relativa grandeza", entre outros. Traduziu diversas obras de autores estrangeiros.

Teve seus livros lançados nos Estados Unidos, Inglaterra, México, Espanha, Dinamarca, Suécia, Noruega e Portugal. Ganhou a versão 1997 do Prêmio Machado de Assis, outorgado pela Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. Morreu no Rio de Janeiro, onde viveu por 49 anos.


quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mulher, corneta e suicídio. Luiz Guerra



Ela veio do quarto para a sala de estar, cautelosa como um sorriso amarelo.

Aproximou-se da janela, pressionou a testa contra a vidraça dura e espiou sem interesse o movimento de carros e transeuntes lá embaixo. Não gostava da Tijuca, não gostava mais. Voltou a cabeça na direção do marido, sentado à mesa, suspirando sem tédio nem hostilidade. Pensou em ficar calada, mas não se conteve:

"A mulher saltou do décimo andar com uma corneta na mão."

Ele sentiu o golpe. Digitava no micro, com a lentidão de costume, um longo artigo de história para uma revista mensal, e assustou-se. Mexeu-se na cadeira, tirou sem pressa os óculos de leitura e olhou para ela. Um olhar bom, verde-água, bem-treinado em salas de aula.

"Que mulher?", disse João. "Velha ou nova?"

"Na faixa dos trinta", disse Maria. "Uma viúva que morava sozinha."

Uma viúva nessa idade, pensou ele. Ainda existiam viúvas? Não se deu conta da tolice, mas teve uma idéia brilhante, coisa de detetive.

"Não recebia ninguém?", disse João.

"Não sei", disse Maria. "Estavam acabando de noticiar quando liguei a televisão, não peguei bem os detalhes. Deram como suicídio. O que me deixou embatucada foi a corneta. Será que ela pulou tocando a corneta?"

Ele esboçou um gesto de impaciência, coçou rapidamente o cocuruto, sorriu também.

"Se não fosse trágico, eu dava uma risada", disse João. "Você não presta. Pôs o quadro na minha frente. Mas se ela tocou a corneta queria chamar a atenção sobre si, não tem outra. Pode fazer alguma diferença a corneta, se a coitada morreu?"

"Pode", disse Maria. "E não é coisa para o seu bico de intelectual aposentado."

"Professor aposentado", disse João, acusando a farpa. "Sabe que não gosto que me chamem de intelectual. Quanto mais você, que faz isso de sacanagem." Tinha arqueado uma sobrancelha, sentindo-se forte e ridículo. Quando tornou a falar, estava banal como um pijama curto. "Disseram pelo menos onde foi?"

"Na Santo Afonso", disse Maria. "Perto daquele restaurante onde a gente comeu língua com batatas na semana passada. Se eu sair depois do almoço, vou perguntar no restaurante ou na banca de jornais o que eles viram na hora."

"Vai perguntar se ela se atirou tocando a corneta?", disse João.

"Não", disse Maria. "Se eles viram na hora, deve ser o assunto do bairro. O que eu quero mesmo saber é outra coisa."

"Por exemplo...", disse João.

"Isso é comigo", disse Maria.

"Isso é comigo", disse João, irritado, remedando a mulher. "Quase quarenta anos de casados, e você não perde a mania dos segredinhos."

"Já ficou com raiva", disse Maria.

"Com raiva, não", disse João. "Você puxa o assunto, me interrompe no meio do trabalho, me faz esquecer uma palavra boa para o meu artigo, e depois começa a bancar a misteriosa. Tudo bem: não é muito comum uma suicida tocando corneta antes de arrebentar-se numa calçada..."

"Ela caiu sobre a capota de um Gol", disse Maria. "E ainda não sabemos se tocou a corneta."

"Não sabemos?!", disse João. "Você não sabe."

"Mas aposto que vai me aporrinhar para saber depois que eu voltar da rua", disse Maria.

"Acha mesmo?", disse João, subitamente inspirado.

Levantou-se, dirigiu-se à mesinha do telefone e fez a ligação.

Ela olhava atônita para o marido.

E ouviu pedaços de frases desconexas, repletas de sentido: Maneco?, uma vizinha nossa na Santo Afonso, corneta, sim, corneta, um Gol parado lá embaixo, tocando a corneta?, um apito?!, nova, muito nova para essas coisas, apito mesmo?!, valeu, Maneco, nada, nada, um probleminha hermenêutico com a patroa, her-me-nêu-ti-co, não se preocupe com isso, valeu, valeu.

Desligou o telefone, voltou triunfante para o seu lugar na frente do micro e olhou sem expressão para ela.

"Um apito", disse João.

[7.12.2007]

Luiz Guerra, 58, é tradutor, revisor, poeta e cronista. Atualmente prepara uma coletânea de crônicas que terá como título o insinuante "Galho de Arruda", o mesmo do seu sítio na internet. 
 
Há informação de que o escritor Luiz Guerra faleceu em maio de 2009.