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domingo, 17 de outubro de 2010

L.I.V.R.O. por Millôr Fernandes


Um novo e revolucionário conceito de tecnologia de informação

Na deixa da virada do milênio, anuncia-se um revolucionário conceito de tecnologia de informação, chamado de Local de Informações Variadas, Reutilizáveis e Ordenadas - L.I.V.R.O.

L.I.V.R.O. representa um avanço fantástico na tecnologia. Não tem fios, circuitos elétricos, pilhas. Não necessita ser conectado a nada nem ligado. É tão fácil de usar que até uma criança pode operá-lo. Basta abri-lo!

Cada L.I.V.R.O. é formado por uma seqüência de páginas numeradas, feitas de papel reciclável e capazes de conter milhares de informações. As páginas são unidas por um sistema chamado lombada, que as mantêm automaticamente em sua seqüência correta.

Através do uso intensivo do recurso TPA - Tecnologia do Papel Opaco - permite-se que os fabricantes usem as duas faces da folha de papel. Isso possibilita duplicar a quantidade de dados inseridos e reduzir os seus custos pela metade!

Especialistas dividem-se quanto aos projetos de expansão da inserção de dados em cada unidade. É que, para se fazer L.I.V.R.O.s com mais informações, basta se usar mais páginas. Isso, porém, os torna mais grossos e mais difíceis de serem transportados, atraindo críticas dos adeptos da portabilidade do sistema.

Cada página do L.I.V.R.O. deve ser escaneada opticamente, e as informações transferidas diretamente para a CPU do usuário, em seu cérebro. Lembramos que quanto maior e mais complexa a informação a ser transmitida, maior deverá ser a capacidade de processamento do usuário.

Outra vantagem do sistema é que, quando em uso, um simples movimento de dedo permite o acesso instantâneo à próxima página. O L.I.V.R.O. pode ser rapidamente retomado a qualquer momento, bastando abri-lo. Ele nunca apresenta "ERRO GERAL DE PROTEÇÃO", nem precisa ser reinicializado, embora se torne inutilizável caso caia no mar, por exemplo.

O comando "browse" permite fazer o acesso a qualquer página instantaneamente e avançar ou retroceder com muita facilidade. A maioria dos modelos à venda já vem com o equipamento "índice" instalado, o qual indica a localização exata de grupos de dados selecionados.

Um acessório opcional, o marca-páginas, permite que você faça um acesso ao L.I.V.R.O. exatamente no local em que o deixou na última utilização mesmo que ele esteja fechado. A compatibilidade dos marcadores de página é total, permitindo que funcionem em qualquer modelo ou marca de L.I.V.R.O. sem necessidade de configuração.

Além disso, qualquer L.I.V.R.O. suporta o uso simultâneo de vários marcadores de página, caso seu usuário deseje manter selecionados vários trechos ao mesmo tempo. A capacidade máxima para uso de marcadores coincide com o número de páginas.

Pode-se ainda personalizar o conteúdo do L.I.V.R.O. através de anotações em suas margens. Para isso, deve-se utilizar um periférico de Linguagem Apagável Portátil de Intercomunicação Simplificada - L.A.P.I.S. Portátil, durável e barato, o L.I.V.R.O. vem sendo apontado como o instrumento de entretenimento e cultura do futuro. Milhares de programadores desse sistema já disponibilizaram vários títulos e upgrades utilizando a plataforma L.I.V.R.O.


Fonte: amigos do livro

Leia também a versão BOOK

Relatório Tecnológico: Anúncio de um dispositivo armazenador de conhecimento organizado embutido:

Built-in Orderly Organized Knowledge  – também conhecido por B.O.O.K.
 
B.O.O.K
B.O.O.K

O BOOK é um avanço revolucionário na tecnologia: sem fios, sem circuitos eletrônicos, sem baterias, nada a ser conectado ou ligado. É tão fácil usá-lo que até uma criança pode operá-lo. Apenas vire a capa! Compacto e portátil, pode ser usado em qualquer lugar – até mesmo numa poltrona perto da lareira – com potência suficiente para armazenar tantos dados quanto num CD-ROM.

Veja como funciona…

Cada BOOK é composto de folhas de papel (reciclado) numeradas seqüencialmente, cada uma capaz de conter milhares de bits de informação. Estas folhas são reunidas num dispositivo chamado “encadernação” que as mantém na sua seqüência correta. A Tecnologia de Papel Opaco (TPO) permite aos fabricantes usar os dois lados da folha, duplicando a densidade de informação e cortando os custos pela metade. 

Há controvérsias com relação aos futuros aumentos da densidade de informação. Atualmente um BOOK com mais informação simplesmente possui mais páginas. Isto pode torná-los mais grossos e difíceis de carregar, e já está ocorrendo uma crítica por parte do mundo da computação móvel. Cada folha é escaneada opticamente, registrando a informação diretamente no seu cérebro. Ummovimento de dedo leva você à página seguinte. O BOOK pode ser levado para qualquer lugar e usado simplesmente abrindo-o. O BOOK nunca trava e nunca precisa de ser rebutado, embora, como outros equipamentos, possa tornar-se inutilisável se cair na água. Um dispositivo chamado “folhear” permite-lhe passar instantaneamente para qualquer página, indo para a frente ou para trásconforme sua necessidade. O BOOK pode ser provido de um dispositivo de “índice”, que aponta para a localização exata de qualquer informação selecionada para uma recuperação instantânea.

Um acessório opcional chamado “marcador” permite-lhe abrir o BOOK no ponto exato em que foi deixado na sessão anterior, mesmo que ele tenha sido fechado. Esses “marcadores” são universais, e portanto podem ser usados em qualquer BOOK de qualquer fabricante. Ademais, vários marcadores podem ser usados em um único BOOK se o usuário desejar guardar vários pontos de acesso. A quantidade de “marcadores” é limitada ao número de páginas.

O equipamento é ideal para armazenamento de longo prazo. Testes de projeção provaram que ele deve continuar sendo legível por vários séculos, e, devido à interface com o usuário extremamente simples, ser compatível com novas tecnologias de leitura.

Você pode tomar notas pessoais no próprio BOOK ao lado da própria informação com uma ferrmanta de programação opcional, chamada PENCILS (Portable Erasable Nib Cryptic Intercommunication Language Stylus). Portátil, durável e barato, o BOOK está sendo apontado como a onda de entretenimento do futuro. O apelo do BOOK parece tão certo que milhares de empresas já se dispuseram a produzi-lo. 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um pouco sobre religião e crenças

Religião e Crenças são o atraso da humanidade? 

Melhor resposta - Escolhida pelo autor da pergunta

Bom, tudo tem um início certo? Vamos lá!!! Quem é Deus? Não sei, nunca vi.... Pra mim não existe...Dizem que ele é o criador de tudo... foi ele quem fez o mal? As Tragédias Naturais?  Foi ele quem fez os terremotos matarem milhares de pessoas em um ano... E aquela igreja evangélica que caiu o teto matando várias pessoas algum tempo atrás... Crianças na África morrendo de fome assim como em vários lugares do mundo ... PQ ele não evitou isso? Falam que a natureza é linda (é mesmo) e que tudo é perfeito... PERFEITO????  Os animais vivem o dia inteiro procurando comida e tendo que se proteger para não serem devorados pelos seus predadores... Os bichos também sentem dor, gente... Pensam que DEUS é um velho barbudo que fica sentado numa cadeira tomando conta de todo mundo... Tá brincando né??? Tá, e quando morrermos?... Nada é pra sempre tudo um dia acaba.... A terra um dia vai acabar assim como o sol, as estrelas, o universo... E pra onde vamos??? Pra lugar nenhum... Acredito que a morte é um sono sem fim... Não acredito em espíritos também, pois os mesmos precisariam de algo para ver, ouvir, se comunicar e isso não existe... Esse pessoal é engraçado... às vezes fico rindo sozinho...Quando acontece alguma tragédia com muitas pessoas, e algumas se salvam, o depoimento é... EU ESTOU VIVO GRAÇA A DEUS.. E as pessoas que morreram, ficaram cegas ou amputadas na mesma tragédia TAMBÉM É GRAÇAS A DEUS?... Brincadeira... Vamos todos morar no Céu quando morrermos... Vamos ficar no Céu infinitamente, quadrilhões de anos (mais tempo que a existência do universo até hoje),  trilhões de espíritos no espaço e todos vivendo não sei ok... muita doideira essa de pensar em vida eterna... não conheço ninguém que morreu, e voltou em forma de espírito ou seja lá de que jeito para contar o pós-morte... poxa, já morreu tanta gente desde que o mundo é mundo e ninguém veio contar como é essa tal de eternidade... estranho não???

E os dinossauros, como a bíblia explica isso??? Vejo tanta gente boa morrendo e os que não prestam vivendo aqui... Se você que está lendo isso fosse meu filho e eu tivesse o poder de "DEUS" iria te proteger de tudo meu filho.... Se eu acreditasse em DEUS, me mataria, pois assim ficaria ao lado dele... pela lógica não é isso?... Pq os pastores que curam cegueira, gente com câncer não vão aos hospitais curarem essas pessoas... só ficam em frente à televisão pedindo dinheiro??? dá nojo... Um dia vi um pastor falando que a vida dele toda usou drogas, saíra com prostitutas, fumava, roubava e que agora virou pastor e está perdoado em nome de Deus... O cara rouba, mata, estupra a vida toda, chega aos 60 anos cheio de pecados, crimes nas costas aceita DEUS e DEUS o perdoa... assim é mole... vou aprontar então até os 70 anos e depois virar santinho...***** da nojo dessa raça.


A própria bíblia cai em contradição... Realmente foi o livro mais perfeito para atrair o dízimo dos otários. Vejam só:]

• Vai lá, responde todos esses aí. Se conseguir eu mando mais:


Gênesis


As duas histórias contraditórias sobre a criação.


Primeira história


O homem foi criado depois dos outros animais. [Gn 1:25-27]

O homem e a mulher foram criados simultaneamente. [Gn 1:27]

Segunda história


O homem aparece antes dos outros animais. [Gn 2:18-19]


O homem foi criado primeiro, então os animais, e só depois a mulher, da costela do homem. [Gn 2:18-22]


Quanto tempo levou para criar os céus e a terra?


Um dia [Gn 2:4] ou seis dias [Gn 1:3 - 2:3].




As plantas foram criadas antes ou depois dos homens?


As plantas foram criadas antes dos homens. [Gn 1:11-13, 1:27-31]


As plantas foram criadas depois dos homens. [Gn 2:4-7]



Quando as estrelas foram criadas?


No quarto dia da criação, depois da criação da terra. [Gn 1:16-19]


Antes que a terra fosse criada. [Jó 38:4-7]




De onde foram criadas as aves?


Das águas [Gn 1:20-21] ou da terra [Gn 2:19].



O homem foi criado antes ou depois dos outros animais?


O homem foi criado depois dos outros animais. [Gn 1:25-27]


O homem aparece antes dos outros animais. [Gn 2:18-19]


Quantos deuses existem?


Há somente um Deus. [Dt 4:35, 4:39, 6:4, 32:39, Is 43:10, 44:8, 45:5-6, 46:9, Mc 12:29, Mc 12:32, Jo 17:3, I Co 8:6]


Existem vários Deuses. [Gn 1:26, 3:22, 11:7, Ex 12:12, 15:11, 18:11, 20:3, 22:20, 23:13, 23:24, 23:32, 34:14, Nm 33:4, Jz 11:24, I Sm 6:5, 28:13, Sl 82:1, 82:6, 86:8, 96:4, 97:7, 136:2, Jr 1:16, 10:11, Sf 2:11, Jo 10:33-34, I Jo 5:7]




terça-feira, 5 de outubro de 2010

O homem que copiava. Jorge Furtado




“É tudo sobre o tempo André, o tempo passando”.


Era sobre o tempo a poesia, e acho que sobre o tempo e sobre a vida é esse filme de Jorge Furtado, sobre um tempo que se esvazia, o homem envelhecendo diante de seus sonhos irrealizados.

“É o jeito de ganhar da morte, de ganhar do tempo, a prole os filhos”.


André arranjou um jeito de ganhar da morte, de ganhar do tempo, de ganhar da vida, melhor seria: de enganar a vida, de enganar a morte, de enganar o tempo.

Tempo esse em que as pessoas estão presas como os bois de Abril Despedaçado, girando em torno de um mesmo eixo. O filme vai romper justamente com o eixo dos personagens, quebrar a seqüência repetitiva e aprisionante de um jovem que trabalha como operador de foto copiadora, que vai de casa pro trabalho, do trabalho pra casa, imerso em sua inércia, apenas sonhando com o futuro.

Jorge Furtado trabalha bem esse eixo do tempo, do “tempo passando” segundo Silvia, as coisas se repetem em volta do André, como quando fala da mãe:

Minha mãe arrasta o chinelo do banheiro para a cozinha. Schlac, schlac, schlac, schlac. Abre o armário, pega um copo, fecha o armário, abre a geladeira, pega a garrafa d'água, fecha a geladeira, enche o copo, não todo, a metade, abre a geladeira, guarda a garrafa, pega o copo, abre o filtro, enche o copo, fecha o filtro, arrasta o chinelo da cozinha pro quarto e diz: "Boa noite, meu filho, eu vou deitar. Televisão me dá um sono."

Existe a construção de uma rotina-cíclica narrada no inicio do filme, uma rotina, que fique claro, que não aprisiona apenas ele, mas que agarra a todos, do dono da papelaria, da mulher dele que sempre passa para pegar dinheiro ou revistas, passando pelo padrasto da Silvia, que sempre fica na poltrona vendo televisão, a própria Silvia, que repete a rotina de chegar todos os dias às 11 horas em casa, passando direto para o quarto.

Pensei no filme de Orson Welles, O Processo, baseado no livro de Kafka, naquele mundo de absurdo que ele constrói, naquele universo tenso e pesado, onde o personagem não dá conta dos acontecimentos. Mas no HOMEM QUE COPIAVA, isso se faz presente apenas no inicio, O Processo vivido por André é o de ser um operador de foto copiadora, sem dinheiro, sem estudo, sem respeito, um cagalhão, que no fim acabaria condenado - a quê? A estar de fora e ver o tempo passar, a ver vida passar, e de ter passado junto, um dia. Como quando ele comenta sobre pessoas que tem síndrome do pânico:

Existem pessoas que não saem na rua nunca. Chama síndrome do pânico. (...). Elas ficam em casa porque não conseguem sair na rua. O problema é que tu acaba ficando velho. Melhor enfrentar a rua.

No filme O Processo, a narrativa é iniciada com um trecho do livro:

Diante da lei, há um guarda.
Um homem vem do interior pedindo para entrar.
Mas o guarda, não pode deixá-lo entrar.
Ele pergunta se pode entrar mais tarde.
“É possível”, diz o guarda.
O homem tenta olhar. Aprendeu que a lei foi feita para todos.
“Não tente entrar sem a minha permissão”, diz o guarda.
“Sou poderoso, apesar de ser o menor dos guardas”.
“A cada sala e porta, cada guarda é mais poderoso que o anterior”.
Com a permissão dada, o homem senta ao lado da porta e espera.
E espera durante anos.
Ele vende tudo o que tem na esperança de subornar o guarda.
Este sempre aceita o que o homem lhe dá, para que o homem não sinta que não tentou.
Fazendo vigília ao longo dos anos, o homem conhece até as pulgas do colarinho do guarda. Ficando gagá com a idade, pede às pulgas que convençam o guarda a deixá-lo entrar.
Sua visão é curta, mas na escuridão, ele percebe o brilho imortal da porta da lei.
E agora antes de morrer, toda sua experiência se concentra em uma pergunta que nunca fez.
Ele chama o guarda, que pergunta o que ele quer.
O homem diz que todos lutam para ter lei. Então por que, em todos aqueles anos, ninguém pediu para entrar?
Sua audição não é boa e o guarda grita em seu ouvido:
“Só você poderia entrar. Ninguém passaria por esta porta. Esta porta foi feita somente para você. Agora eu a fecharei”.


Mas André enfrentará, ele romperá – um acontecimento gerará toda uma série de mudanças na história dele, quando surgem duas opções apenas – continuar ou romper o redemoinho da vida social: o momento em que, no ônibus, diz para Silvia que vai comprar o chambre:

Se não der na Segunda eu passo até o final da semana pra comprar o chambre.
Não sei pra que eu fui dizer uma merda daquela. (...). Agora eu ia ter que conseguir trinta e oito reais e comprar o chambre, ou então esquecer para sempre que a Sílvia existe. Só que eu não tinha trinta e oito reais sobrando assim. Nem tinha onde conseguir, não até o final da semana.

Diferente de Joseph K, que a partir de um acontecimento, perde o controle e cai nas redes de um sistema do qual não conhece nem controla, André sai do sistema, sai do sistema da sua própria vida e rompe o sistema da sociedade – está agora de fora – não sabe onde vai parar, não tem mais a certeza do operador de foto copiadora. O filme também fala de um cotidiano, da riqueza que o cotidiano esconde atrás da rotina, a riqueza da ação.

A expressão corporal de Lázaro Ramos é fundamental para entender quem é o André. Antes – um rapaz cabisbaixo, com olhar raivoso, ombros enrolados, depois – com andar mais decidido, enfrenta quem ele é, suas misérias, dores, e segue. Esse “depois” é quando ele consegue trocar o dinheiro falso na loteria, a construção da cena é organizada para mostrar alguém que alcançou a redenção – a música clássica, a sensação de que ele dominou o mundo ao seu redor, tudo pára, o barulho, o movimento do trânsito, das pessoas – ele parece maior.

A partir daí ele começa a participar da vida, a encarar a rua, a encarar a sociedade.

Quando ele almoça pela primeira vez com Silvia é marcada a posição que ele ocupava: a de observador – com os binóculos, somente olhando a distância, sem participação:

Ela não usa perfume, não é muito de figo, tem nojo de bruxa no feijão e um brilho nos olhos, quando ri. Isso tudo não dá para ver de binóculo.

Outro indicio da ruptura, o que ele quer já não dá mais para ver de binóculos, já não basta, ele já é outro.


Título Original: O Homem que Copiava/ Gênero: Comédia Romântica/ Tempo de Duração: 123 min./ Ano de Lançamento (Brasil): 2002 / Direção e Roteiro: Jorge Furtado/ Produção: Luciana Tomasi e Nota Goulart/ Fotografia: Alex Sernambi/ Desenho de Produção: Marco Baiotto/ Direção de Arte: Fiapo Barth/ Figurino: Rô Cortinhas/ Edição: Giba Assis Brasil.

Elenco: Lázaro Ramos (André)/ Leandra Leal (Sílvia)/ Luana Piovani (Marinês)/ Pedro Cardoso (Cardoso)/ Paulo José (Paulo)/ Júlio Andrade (Feitosa)/ Carlos Cunha (Antunes). 





Soneto número 12 (William Shakespeare - tradução de Ivo Barroso)


Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta têmpora assedia;

Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia a sombra franca
E em feixe atado agora o verde trigo
Seguir o carro, a barba hirsuta e branca;

Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono

Morrem ao ver nascendo a graça nova.
Contra a foice do Tempo é vão combate,
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate.


Para quem prefere o original:

When I do count the clock that tells the time,

And see the brave day sunk in hideous night;
When I behold the violet past prime,
And sable curls, all silvered o'er with white;


When lofty trees I see barren of leaves,
Which erst from heat did canopy the herd,
And summer's green all girded up in sheaves,
Borne on the bier with white and bristly beard,

Then of thy beauty do I question make,
That thou among the wastes of time must go,
Since sweets and beauties do themselves forsake

And die as fast as they see others grow;
And nothing 'gainst Time's scythe can make defence
Save breed, to brave him when he takes thee hence.


sábado, 2 de outubro de 2010

A verdade fortalece a democracia. Gerson Almeida

(Existem duas: a "liberdade de imprensa" e liberdade de imprensa)

Nesse último período da campanha, quando as pesquisas apontam a possibilidade real de vitória da candidata de situação, em primeiro turno, setores da grande imprensa parecem ter decidido levar à risca a orientação de Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e executiva do grupo Folha de São Paulo, publicadas no jornal O Globo, em 18/03/10, e assumir a linha de frente da campanha de Serra. Nas palavras da presidente da ANJ, "... obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo."

Lida em março, essa declaração ainda poderia ser compreendida como um possível deslize, ou má articulação entre o pensamento e a fala, pois, verdade seja dita, a aposição não deixou de trabalhar um único minuto e atuou fortemente, especialmente contra todas as iniciativas do governo que criaram, ou ampliaram direitos aos setores mais vulneráveis da população. Essa preocupação com as dificuldades eleitorais da oposição também foi o assunto dominante no I Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto Millenium, em março, no qual Arnaldo Jabor ensinava que o importante é “impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”, declaração secundada por outro arroz de festa desses ambientes, Reinaldo Azevedo, para quem é preciso “mudar uma certa cultura” e “passar a defender os valores que são da democracia, da economia de mercado e do individualismo”. Ou seja, a democracia é boa, desde que o pensamento conservador arbitre o que pode e o que não pode. Aceitam a democracia, desde que ela seja tutelada.

Colocada essa premissa, o próximo passo é responder sobre qual o sujeito político desta tarefa, já que os partidos de oposição estão fragilizados? A síntese das falas do referido seminário – que reuniu importantes representantes das seis famílias que controlam mais de 54% do que é publicado no país – foi feita por Jabor, para quem “a classe, o grupo e as pessoas ligadas à imprensa têm que ter uma atitude ofensiva e não defensiva [...] Nossa atitude tem que ser agressiva”. Parece que os setores mais conservadores cansaram – lembre do movimento Cansei, uma tentativa anterior de ação política oposicionista, com amplo apoio da mídia - de reclamar da postura não o suficientemente agressiva feita pelos partidos de oposição e decidiram assumir o protagonismo da ação política.

Quando o presidente Lula passou a tratar o tema e classificou de parcial a cobertura da grande imprensa, aconselhando que o melhor seria ela “assumir que tem um candidato e um partido” e não ficar “vendendo uma neutralidade disfarçada”, uma afirmação estritamente dentro do debate político e do direito de opinião, a reação foi virulenta, ao ponto do editorial do Estadão (23/09) anunciar a “erosão das bases da ordem democrática” e repicar o lamento da presidente da ANJ quanto à relutância da “candidatura oposicionista em arrostar o presidente em pessoa por seus desmandos”. Essa reação descontrolada a uma crítica política mostra o quanto a estratégia pensada para essas eleições pelos conservadores está naufragando.

É que a possível vitória de Dilma e de uma maioria de governadores e congressistas comprometidos com seu governo, desmonta a idéia de que o projeto iniciado por Lula não está fadado a terminar com o fim do seu governo, como sonharam esses setores. A estratégia de Serra foi, desde o princípio, a de desdenhar da candidata Dilma e tentar colocá-la como uma simples invenção, que como tal seria “desconstituída” por ele no embate eleitoral. Esse desejo ganhou alento com a vitória da oposição no Chile, que derrotou o candidato apoiado pela presidenta Bachelet, que também estava à frente de um governo amplamente bem avaliado. .

Ao ruir essa Bastilha de cartas e ter suas expectativas frustradas, a oposição ficou sem saber o rumo a tomar e escolheu o pior entre os caminhos possíveis, deixando-se capturar pelo setor mais retrógrado e belicoso do seu campo. Ao assumir esse caminho, ficou refém do discurso típico desse setor, que parece sempre estar vendo alguma conspiração contra a democracia e taxando como cooptação toda a ação de hegemonia política que desloca setores sociais do seu domínio político e ideológico. Ao assumir esse atalho, simplesmente abdicou de disputar projetos políticos e reduziu sua ação a repetir a cantilena de que as instituições democráticas estão em risco.

Há um paradoxo entre a escalada midiática de produção de medos e riscos à democracia e o ambiente social real do país. Estamos vivendo o nosso mais longo período de democracia e alcançamos indicadores econômicos e sociais que alicerçam uma ampla expectativa positiva da sociedade quanto ao futuro; o presidente vai passar a faixa presidencial para a candidatura vitoriosa nas urnas e não foi seduzido pelo “canto de sereia” do terceiro mandato, que a sua extraordinária popularidade poderia viabilizar. Além disto, todas as instituições e grupos sociais possuem ampla liberdade e temos uma cidadania vigorosa, que está cada vez mais tendo canais de participação da vida pública.

A reação da grande imprensa, portanto, não tem nada de defesa da liberdade de imprensa, que nunca foi tão intocada. Esse tema serve apenas como argumento para justificar a sua decisão de assumir papel protagonista no processo eleitoral. Tanto é assim, que não se viu qualquer reação desses meios, quando Demétrio Magnoli – figura obrigatória quando se trata de preocupação com os riscos à democracia e combate às políticas afirmativas para os negros – publicou longo artigo na Folha de São Paulo, no qual acusa dois jornalistas do próprio jornal por “falsear deliberadamente a história como faz o panfleto disfarçado de reportagem publicado nesta Folha”, assumindo a defesa da versão de que a escravidão era um item da pauta de exportação africana. Não contente com esse ataque, ele ainda chamou os repórteres de “engajados” e de que estão “a serviço de uma doutrina tentam fazer da história um escândalo”. O título do artigo não é outro do que “o jornalismo delinqüente”. O silêncio dos jornais diante dessa investida inédita e intimidadora, não combina em nada com a reação nervosa contra a fala do presidente.

O presidente é o guardião da Constituição e das instituições, não havendo qualquer indício de que não esteja cumprindo à risca suas obrigações constitucionais. A questão é que ele não abdicou do papel de líder político e o cumpre com grande determinação e reconhecimento público, contrariando a expectativa daqueles que o queriam distante da disputa dos projetos que verdadeiramente distinguem os campos políticos em disputa no país, o que facilitaria a estratégia tucana de transformar as eleições numa disputa pessoalizada e despolitizada. Agora, acabo de ler o editorial do Estadão, no qual cede à sugestão do presidente Lula e, finalmente, assume que está com Serra. Agora, agora tudo fica mais claro e, mesmo que tardia, a verdade sempre ajuda a fortalecer a democracia.

Aliás, nos Estados Unidos, a diretora de Comunicações do governo, recentemente declarou que, ao falar para a Fox (grande rede de comunicações), o presidente Barack Obama “já sabe que estará como num debate com o partido da oposição”. Não há notícia de que esteja havendo uma erosão das instituições democráticas naquele país, ou um liberticídio.

Gerson Almeida é sociólogo.