"Eu sempre quis conhecer o Rio.
Quem sabe tu vai me visitar nas férias?
Ainda falta. Olha... trouxe um presente pra ti. Tu leva na viagem e lê. Está marcado na página daquele.
"Quando a hora dobra em triste
e tardo toque.”
Tu entendeu?
Entendi. Bonito.
"Quando a hora dobra
Em triste e tardo toque
“E em noite horrendo
Vejo escoar-se o dia”
Quando vejo esvair-se
A violeta."
A flor. Esvair-se é evaporar, murchar, morrer.
"Ou que a prata
A preta têmpora assedia"
O cabelo ficando grisalho do lado.
"Quando vejo sem folha
O tronco antigo
Que ao rebanho estendia
Sombra franca"
Árvore sem folhas. Onde os bois e as vacas tomavam sombra, quando lá tinha folhas.
"E em feixe atado
Agora o verde trigo
Seguir o carro
A barba hirsuta e branca"
É o trigo cortado, indo embora numa carroça.
“A barba hirsuta e branca.”
É tudo sobre o tempo, André. O tempo passando.
"Sobre a tua beleza
Então questiono
Que há de sofrer do tempo
A dura prova"
Isso é a pessoa...
É, eu entendi.
"Pois há graça no mundo
Em abandono
Morre ao ver nascendo
A graça nova
Quando a foice do tempo
É vão combate
Salvo a prole, que o enfrenta
Se te abate"
O que que é isso?
Isso é o jeito de ganhar da morte... de enganar o tempo.
A prole, os filhos.
Entendi. É bonito mesmo. Obrigado.
Tenho que voltar ao trabalho.
‘Tá, claro.
Silvia. Tu me espera?
Espero.
Tu quer casar comigo e sair daqui?
Claro que sim.
Pode levar uns seis meses.
Eu espero.
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