Na minha infância, morei em um lugar no qual nascentes de água afloravam da terra. Existia um tanque com uma mangueira que trazia água direto do morro, a qual corria continuamente, 24 horas por dia, e eu, com a ingenuidade e curiosidade só possíveis a uma criança, ficava horas admirando a água e pensava: “Isso nunca acaba, pois vem da terra e do céu ao mesmo tempo”. Hoje sei que minha teoria estava equivocada.
Aprendi na escola que a água “era” inodora, incolor e insípida. Hoje, sei que a água tem cheiro, cor e gosto. Meus pais tomavam banho em rios. Eu já não tive esse privilégio, mas ainda via os vizinhos pescando nestes ambientes. Meus sobrinhos nem tomam banho e nem pescam em rios e aprendem na escola que a água é um bem finito. Perguntas rondam o imaginário de qualquer pessoa em estado de alerta: quando será o próximo terremoto? Até quando teremos água potável? Não temos respostas, mas uma fé inabalável na ciência, paralela à falta de credibilidade nas pessoas. Estas incertezas contribuem para que as novas gerações cresçam com o medo e com a falta de esperança.
O “bicho-papão” da modernidade assume diferentes formas e deixou de ser o monstro que se esconde embaixo da cama. Para as crianças de hoje, os medos são outros. Pais, que devem proteger, são julgados por jogar filha da janela; agulhas são usadas para tortura (instrumento e ação dignos da Idade Média). Temos, ainda, o medo da separação dos pais, do abandono e da violência urbana. Logo, crescer com tranquilidade, em um ambiente favorável, tornou-se uma “missão quase impossível”.
Ouvíamos professores mais experientes falarem: “A cada dois anos, percebemos mudanças de comportamento nos alunos”. Hoje, as transformações comportamentais, sociais, familiares e outras possíveis são diárias, e recebemos na escola uma infância já fragilizada pelo histórico familiar e social.
O mundo, que já passou por grandes epidemias e por duas guerras mundiais, possui outro desafio urgente: ensinar nossas crianças a terem a esperança de que um planeta sustentável é possível, além da confiança no ser humano. O que dizemos, assistimos ou lemos tem impacto direto sobre a infância. Vemos estampados nos rostos e ações das crianças a agitação dos tempos modernos. Elas podem não ter clara a noção de tempo, mas compreendem a angústia do adulto que assiste a filmes que retratam o fim do mundo com hora marcada e o terror das catástrofes naturais. Façamos escolhas: ou ensinamos o cuidado com o planeta Terra e a confiança no outro ou instalamos o medo coletivo.
Negligenciamos a consciência ecológica, os valores e a ética e evidenciamos os desastres, a violência e a sociedade corrompida. Para piorar, entregamos a educação das crianças para a internet, a televisão e sua programação medíocre. Em meio à falta de certezas familiares e sociais, a infância do atual século desenvolve-se com muitos desafios e pouca segurança. Deixamos um legado de destruição das matas, de rios poluídos e um sistema capitalista que escraviza e delegamos aos futuros adultos a nobre missão de salvar a Terra e todas as formas de vida existentes.
Antes, galinha era tema para música infantil e agora é a responsável pela gripe aviária; porco era personagem de fábulas e agora é o vilão da moléstia H1N1; os terremotos saíram dos livros de geografia para a vida prática; icebergs vagam pelos oceanos, anunciando o aquecimento global. Pegamos este mundo, embalamos para presente e enviamos às novas gerações. Não fornecemos a elas valores morais e manual de sobrevivência, mas queremos como sinal de recebimento do pacote a solução dos problemas ambientais e dos males que causamos. Sendo assim, tenho que repetir: é necessário que as crianças voltem a ser educadas em casa e ensinadas na escola, pois queremos – e, principalmente, precisamos – gerações criativas e conscientes, em vez de amedrontadas pela fragilidade da vida.
Aprendi na escola que a água “era” inodora, incolor e insípida. Hoje, sei que a água tem cheiro, cor e gosto. Meus pais tomavam banho em rios. Eu já não tive esse privilégio, mas ainda via os vizinhos pescando nestes ambientes. Meus sobrinhos nem tomam banho e nem pescam em rios e aprendem na escola que a água é um bem finito. Perguntas rondam o imaginário de qualquer pessoa em estado de alerta: quando será o próximo terremoto? Até quando teremos água potável? Não temos respostas, mas uma fé inabalável na ciência, paralela à falta de credibilidade nas pessoas. Estas incertezas contribuem para que as novas gerações cresçam com o medo e com a falta de esperança.
O “bicho-papão” da modernidade assume diferentes formas e deixou de ser o monstro que se esconde embaixo da cama. Para as crianças de hoje, os medos são outros. Pais, que devem proteger, são julgados por jogar filha da janela; agulhas são usadas para tortura (instrumento e ação dignos da Idade Média). Temos, ainda, o medo da separação dos pais, do abandono e da violência urbana. Logo, crescer com tranquilidade, em um ambiente favorável, tornou-se uma “missão quase impossível”.
Ouvíamos professores mais experientes falarem: “A cada dois anos, percebemos mudanças de comportamento nos alunos”. Hoje, as transformações comportamentais, sociais, familiares e outras possíveis são diárias, e recebemos na escola uma infância já fragilizada pelo histórico familiar e social.
O mundo, que já passou por grandes epidemias e por duas guerras mundiais, possui outro desafio urgente: ensinar nossas crianças a terem a esperança de que um planeta sustentável é possível, além da confiança no ser humano. O que dizemos, assistimos ou lemos tem impacto direto sobre a infância. Vemos estampados nos rostos e ações das crianças a agitação dos tempos modernos. Elas podem não ter clara a noção de tempo, mas compreendem a angústia do adulto que assiste a filmes que retratam o fim do mundo com hora marcada e o terror das catástrofes naturais. Façamos escolhas: ou ensinamos o cuidado com o planeta Terra e a confiança no outro ou instalamos o medo coletivo.
Negligenciamos a consciência ecológica, os valores e a ética e evidenciamos os desastres, a violência e a sociedade corrompida. Para piorar, entregamos a educação das crianças para a internet, a televisão e sua programação medíocre. Em meio à falta de certezas familiares e sociais, a infância do atual século desenvolve-se com muitos desafios e pouca segurança. Deixamos um legado de destruição das matas, de rios poluídos e um sistema capitalista que escraviza e delegamos aos futuros adultos a nobre missão de salvar a Terra e todas as formas de vida existentes.
Antes, galinha era tema para música infantil e agora é a responsável pela gripe aviária; porco era personagem de fábulas e agora é o vilão da moléstia H1N1; os terremotos saíram dos livros de geografia para a vida prática; icebergs vagam pelos oceanos, anunciando o aquecimento global. Pegamos este mundo, embalamos para presente e enviamos às novas gerações. Não fornecemos a elas valores morais e manual de sobrevivência, mas queremos como sinal de recebimento do pacote a solução dos problemas ambientais e dos males que causamos. Sendo assim, tenho que repetir: é necessário que as crianças voltem a ser educadas em casa e ensinadas na escola, pois queremos – e, principalmente, precisamos – gerações criativas e conscientes, em vez de amedrontadas pela fragilidade da vida.
Do Jornal "A Notícia" - 26.03.10.
Elizete Feliponi
Pedagoga, formada pela UNERJ - Jaraguá do Sul/SC. Especialista em Políticas Públicas pela FURB e aluna especial no curso de Mestrado em Educação nas Universidades TUIUTI (Curitiba/PR) e FURB (Blumenau/SC). Atuou como professora de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Educação Especial e Educação de Adultos nas redes pública e privada de ensino. Palestrante e tutora.
Elizete Feliponi
Pedagoga, formada pela UNERJ - Jaraguá do Sul/SC. Especialista em Políticas Públicas pela FURB e aluna especial no curso de Mestrado em Educação nas Universidades TUIUTI (Curitiba/PR) e FURB (Blumenau/SC). Atuou como professora de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Educação Especial e Educação de Adultos nas redes pública e privada de ensino. Palestrante e tutora.
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