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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Fräulein Margrit. Catherine Lanou

Botero
Quando retornamos ao Brasil, no início dos anos 70, ela viera junto conosco. Era como se fizesse parte da nossa mudança. Havíamos passado dois anos na Alemanha. Meus pais fizeram estudos de pós-graduação, através de bolsa, numa universidade alemã. Seu nome era Margrit, mas meus pais se acostumaram a chamá-la de Fräulein. Um nome carinhoso, que, em alemão, significa senhorita.

Ela era um pouco governanta, babá, empregada doméstica, mas sempre fora tratada como membro da família, indistintamente. Eu, às vezes, imitava meus pais, mas sempre preferia chamá-la de Margrit, mesmo. Acho que por ser mais afetuoso e menos formal. Seu nome tinha tudo a ver com ela. Falava muito mal o português. Somente o necessário para uma comunicação diária.

Naquela época eu era uma criança. Não lembro precisamente a idade. Mamãe se afeiçoou muito e a convidou para nos acompanhar. Margrit era solteira, tinha poucos familiares e disponibilidade para viajar. Acho também que seu espírito aventureiro a fez optar pela viagem. Mamãe também queria que eu aprendesse um pouco mais do idioma alemão, o qual eu apenas conseguira principiar, no pouco tempo que tive de contato.

E agora, quase trinta anos depois, a lembrança daquele período vem, assim, meio enevoada, difícil, sem muita nitidez. Até que o esforço resolva. Mas, apesar disso, ainda mantenho Margrit tão viva na memória, o jeito com que lidava comigo, como me tratava, sempre muito atenciosa, disposta a um carinho, um afeto, e, claro, da sua inconfundível fala, tão exótica, carregada de sotaque. Fräulein Margrit era minha única companhia durante o dia, período em que meus pais ficavam fora, trabalhando, estudando. Era ela quem cuidava das minhas coisas, da minha roupa, do que eu deveria comer, observava meus horários, principalmente os de descanso.

Lembro que ela era muito criativa e sempre disposta a brincar de qualquer coisa para me entreter e encher o meu dia com atividades. Cantava canções típicas alemãs, tentava me ensinar as letras e a melodia, mas eu tinha muita dificuldade. Lembro de cor, apenas, de duas canções: “Oh! Tannenbaum” e “Rudolph das kleine Rentier”. Ela insistia, insistia e repetia até que eu pronunciasse as palavras corretamente e cantarolasse em coro com ela.

Fräulein Margrit era uma típica mulher germânica de cidade pequena, do interior, humilde, simples. Herdara dos seus pais um corpanzil, grande e opolulento, ombros fortes, dorso robusto. Tinha um quadril largo, pernas grossas, braços musculosos. Um tipo alemão de mulher obesa, de gordura uniforme, como aquelas antigas mulheres halterofilistas de circo.  Quando assisti ao filme “Amarcord”, de Fellini, a personagem daquela mulher obesa da mercearia, que quase mata um menino pressionando-o contra seus enormes seios, me fez lembrar de Margrit. Coisas caricaturais, típicas de Fellini. Margrit, também, era como uma personagem de Fellini, quase surreal.

Sim, é assim mesmo que eu a memorizei, mas com muito carinho e saudade. Talvez também tenha sido por sentir tanto sua falta que, conscientemente ou não, sempre gostei das pinturas do artista plástico colombiano Fernando Botero e suas personagens obesas. Naquela época, uma das minhas brincadeiras favoritas era esconder-me sob suas enormes saias compridas, e, com minha alegria incontida, eu ficava passeando por entre aquelas robustas e roliças pernas, tocando aquela pele macia e quente.

Houve vezes em que eu aparecia na porta da cozinha agarrada ao meu cobertorzinho de estimação, pela manhã, ainda sonolenta. Margrit, enquanto fazia algo na pia ou no fogão, tão logo me avistava, com um simples movimento de cabeça, convidava-me para aquele recôndito e singelo lugar, que eu tanto adorava ficar. Ela até afastava bem as pernas para que eu não me sentisse sufocada. Em tudo o que fazíamos, havia um quê de inocência e ingenuidade. Ela me dedicava um excesso de zelo, mas jamais abusou de mim. Acho que foi até bem ao contrário. Eu, uma criança muito mimada e travessa, usava e abusava da minha “tatinha”, tamanho extra-gê.

Era ela quem me acompanhava no banho, lavava meus longos cabelos, depois os secava e os escovava. Fräulein Margrit jamais demonstrava cansaço ou desânimo. Não comigo. Quando ela retornou à Alemanha, eu já devia ter uns dez anos. Lembro-me de como foi difícil nosso rompimento, chorei muito na despedida, sabia que sentiria tanto a sua falta. Pressentia a dor da enorme lacuna que sua ausência nos deixaria, principalmente para mim, que era tão apegada. O trauma da separação foi tamanho, que minha adolescência foi muito triste e pobre de experiências.

Sem Margrit ao meu lado, acho que cresci melancólica, carente e frustrada. Agora estou aqui, sozinha no meu quarto, um pouco deprimida, pensando na minha querida Fräulein Margrit, que marcou tanto minha vida. Espero que ainda esteja viva e que ainda encante as pessoas que a cercam, com sua alegria cativante e desmesurada.

Já não me surpreendo com minha incrível facilidade de me excitar desse jeito. Apenas deixando a imaginação fluir. Vasculhando o baú da memória. Mantenho minha mão pressionada sob o púbis. Um dos dedos na minha abundante lubricidade. Meus pensamentos me entorpecem. De olhos fechados, sem esforço, volto no tempo. Margrit estaria ainda mais uma vez na cozinha. Eu, então, chegaria à porta, como tantas vezes o fizera. Ela me convidaria para mais uma divertida brincadeira.

Eu disfarçaria o fim da minha pureza, a morte da minha ingenuidade. E, ansiosa e ofegante, novamente me esconderia sob sua saia. Ficaria, ali, naquele lugar mágico, roçando-me entre aquelas opulentas pernas de pele muito quente, macia, cheia de pelinhos delgados, suaves como veludo. Só que, dessa vez, ela estaria sem sua enorme calçola. Sentiria aquele aroma a me inebriar mais uma vez.

Deixaria me envolver por aquela atmosfera de penumbra misteriosa, que sempre me instigava. Suas pernas bem afastadas. Minha cabeça erguida. Mãos apoiadas em seus fartos glúteos. Meu Deus! Ah, fosse possível! Se Margrit estivesse aqui, agora, comigo. Estaria deitada, em imensa nudez, ao meu lado, com sua brancura leitosa, sua pele esticadinha nos seus excessos voluptuosos. Eu pediria, como fizera muitas vezes, fazendo beicinho, chantageando-a, e ela não se recusaria.

Eu tomaria, então, na boca o mamilo de um dos seus fartos seios, como uma criança, carente como outrora, agora mais faminta que nunca. Pressiono com mais força minha mão entre minhas pernas. Margrit não está mais aqui. Há uma mescla de memória e desejo turvando minha mente. Tudo parece quase perfeito. Consigo, consigo! E, por segundos, trago Margrit de volta, mantenho-a bem junto a mim, meus olhos fechados, minha boca entreaberta, meus suspiros ritmados. Não posso mais me conter. O clímax do momento. Não... Eu... eu... Mar... grit... Mar-grit!

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