Preciosidades

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Relato de uma breve história de sacanagem. Marcelo Mirisola


De súbito, concordamos. Saímos no carro dela.
Quem fez o convite?
Ela me disse que gostava de homens e de mulheres e que tinha hormônios demais no corpo. E que se o desejo chegasse, na falta dc alguém, ela mesma cuidava do assunto: “com este dedo, viu?” As mulheres da minha libido, exceto duas delas, falavam por ela e, pela primeira vez, falavam o que eu queria ouvir: “Na hora da tesão eu me viro até com saca-rolhas enferrujado, entende? Pede um vinho branco pra gente... seco.”
As unhas eram curtas e o dedo anular feito para a sacanagem. Usava as expressões “sacanagem”, “foda-se” e “tesão” com muita fluência, aliás.
Foi quando eu vi nas costas da mão dela a corcunda nua de um homem-gabiru prestes a sodomizar uma galinha: “me diz uma coisa” — e estocou três vezes seguidas o pequenino degenerado contra a mesa: “faz quanto tempo que você não dá umazinha?” Caí na gargalhada para não cair da cadeira, ela não largava dos meus olhos: “hein?” Engoli a risada de estômago vazio — ela aproveitou para comer uma azeitona e furar o meu braço com o palito..., chupava um pênis invisível... Prosseguiu mordendo as falanges e contou-me sobre a briga que tivera com o amante e eu não me interessei. Então fez a descrição da vagina como se a própria vagina tivesse me confidenciando os detalhes lá de baixo. Estava lubrificada, me garantiu. Os lábios vaginais falavam por si mesmos e orgulhavam-se da intimidade genital que mantinham com o clitóris desenvolvido.
Epa!
Ela não sabia beijar de língua. Fiquei com medo e ela me disse que era tarde demais e que eu fazia parte do jantar. Passava as manhãs brigando com o amante e cuidando do jardim. Uma tesão irreversível pelo pai, também.
O garçom a conhecia.
Enumerou as técnicas de imobilização e pediu uma dose dupla de vodca. Ela me garantiu que a ruiva da mesa ao lado estava devidamente cantada. As duas foram ao banheiro e alguns minutos depois estavam bebericando na mesa de três carecas. Eu fui atrás. Ela tomou a caneta emprestada do careca n° 2 e rapidamente escreveu alguma coisa no guardanapo. Fez com que eu o guardasse como se fosse um pedido de socorro: “deixa pra outra vez, tá?” Logo que saí do boteco rasguei o telefone e o endereço que ela havia me passado. A ruiva estava drogada. Na hora em que fui tragado pela noite, embora imediatamente não tenha pensado no dr. Louis-Ferdinand, eu me senti o cara mais feliz e o cara mais filho da puta deste mundo. Depois achei que o telefone e o endereço eram falsos. Chamava-se Mônica.
(do livro “Fátima fez os pés para mostrar na choperia”, p. 98/99)

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