Preciosidades

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O outro céu. Julio Cortázar


Rapaz relembra, com grande nostalgia poética, dos momentos que passava na zona de prostituição da cidade, e dos prazeres de que lá desfrutava sob o enorme céu de gesso das galerias, pintado com figuras alegóricas que estendiam mãos oferecendo grinaldas – até que a atmosfera do lugar, repleta de cheiros e luxúria, se subverte e se torna tensa por conta de um estrangulador que anda pelo bairro, fazendo vítimas, levando-o abandonar a região que tanto amava e a retornar para a normalidade burocrática do seu dia-a-dia que tanto o sufocava e que o privava de uma liberdade que lhe parecia cada vez mais inatingível pois, a partir de certo momento, mesmo se sentindo dividido entre a falsa vida social da qual participava e entre seus prazeres clandestinos, começa a aquilatar o quanto a sua vida é pequena frente aos grandes episódios políticos que marcam a época e que desfilam perante seus olhos paralisados e indiferentes, sendo esta a situação que sela o pacto que assume definitivamente para com a sua vida medíocre e pacata: casa-se e fica em casa tomando chimarrão, observando as plantas no pátio, se perguntando se irá votar em um candidato ou se seu voto será em branco.

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